"Tornei-me insano, com longos intervalos de uma horrível sanidade" - Edgar Allan Poe

W. R. SANTHOS

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Escritor. Pintor. Cineasta Amador.

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sexta-feira, 6 de maio de 2016

Crônicas de Horror – O Circo, Capítulo 2


O navio seguia em alta velocidade por entre as ondas selvagens daquele mar revolto e perigoso, a cada pancada no casco que tomava pela agua um dos marinheiros pulava pra fora com violência, o céu estava em um cinza tão escuro que quase estava se tornando preto, de longe as ondas mais pareciam paredes em movimento. O pavor era total, gritos e mais gritos que não eram escutados por causa dos barulhos do mar e os trovões que de vez enquanto caíam na cabeça de alguma pessoa e a transformava em um corpo sem vida queimando por dentro, o capitão estava dentro da sua cabine tremendo de medo pressentia a morte de todos ali, sabia muito bem que aquele navio não aquentaria mais e afundaria a qualquer momento, todo o seu luxo e poder não serviam pra nada nesse momento, se sentia impotente e miserável com a situação que se desenrolou.


Karine observava tudo aquilo passiva na parte superior do convés, cada mínimo detalhe estava sendo registrado, oficiais pomposos em desespero caindo na agua morrendo afogados ou sendo atingidos por raios, os escravos acorrentados sendo jogados de um lado pro outro sem conseguir se soltarem, alguns acorrentados com irmãos já mortos. Karine percebeu que alguns deles, os que conseguiram se manter vivos e dentro do navio, se ajoelharam em meio a chuva pesada que caia na sua direção, pareciam que estavam rezando na direção dela, foi quando percebeu que não era pra estar ali, o vento não a empurrava pra longe, o balanço do navio não a incomodava e a chuva não a tocava, estava ali mais ao mesmo tempo não estava. De longe viu um tornado vindo em direção deles, esse era o fim pra todos ali, escravos, oficiais, não importava mais, todos teriam o mesmo destino, mas algo ainda mais assustador estava pra acontecer o tornado tinha um rosto, um rosto cruel vindo em direção deles, abriu aboca e engoliu o navio, Karine pode sentir a dor de cada um antes de sua mente apagar.

Karine acordou em uma cama estranha em um quarto estranho, sua mente estava muito confusa, as imagens que aparentemente eram um sonho ainda estavam fortes, demorou alguns minutos pra ela distinguir o que era real e o que não era, ainda assim estava bastante assustada, tremia muito enquanto tentava se levantar da cama, não fazia ideia de quanto tempo estava ali nem como tinha chegado naquele quarto. Escutou alguns passos vindo em sua direção, seu coração disparou, procurou alguma coisa pra se defender, mas não encontrou nada, então foi pro chão e se escondeu embaixo da cama, a porta foi aberta, ali de baixo ela pode ver os pés caminhando de um lado para o outro a procurando, estava ofegante por causa da tensão, mas respirava o mais silencioso possível, seu peito doía de tanto medo que estava, viu os pés saírem do quarto então pode finalmente sair de baixo da cama, esperou mais alguns minutos botou o seu tênis e saiu do quarto.
Andou por um corredor reto e pra sua surpresa saiu dentro de uma igreja, um padre sentado no banco parecia que a estava esperando, Karine finalmente se acalmou afinal estava na casa do Senhor, o que de mal podia lhe acontecer, e tinha se lembrado o porque estava ali, mas ainda era um mistério de porque estava desacordada no quarto.

- Bênção, padre!

- Deus te abençoe, minha filha! – Karine senta no seu lado. – Acredito que esteja se perguntando como veio parar aqui!

- Sim senhor, minha mente está confusa, não lembro como cheguei aqui ou porque estou aqui.

- Te encontrei no lado de fora da igreja desacordada, ,parecia estar tendo algum tipo de pesadelo muito real Karine, como não tenho o telefone dos seus pais lhe deitei na minha cama enquanto atendia alguns fiéis.


- O senhor acredita em reencarnação? Eu sei que isso pode ir contra a sua crença, mas eu tô com duvidas e não só com isso acho que sou amaldiçoada, muitas coisas estranhas vem acontecendo comigo.

- Eu realmente senti algo quando te peguei no chão, minha filha esteve aqui, mas não pode lhe ajudar.

- Sua filha?

- Entendo o espanto, nem sempre eu fui um padre, antes de seguir essa vocação eu tive uma família e uma vida diferente. – ele falou com uma tristeza no olhar. – Mas isso é passado vamos focar em você. O que realmente lhe aflige?

- Tem alguma coisa de errado comigo, não sei explicar direito é alguma coisa fora do normal, tenho pesadelos muito reais como se eu realmente estivesse lá, e eu sinto que realmente estou. Algo grande vai acontecer padre, eu sinto isso, um mal muito grande está por vir e vai consumir tudo e todos.

Karine saiu da igreja com a sensação que o padre sabia mais do que lhe tinha contado, mexeu no seu bolso e encontrou o folheto do circo, pensou que se conseguisse um tempo no final de semana iria visita-lo. Chegou em casa e seus pais não estavam, entrou em seu quarto abriu a janela e deitou na sua cama, ficou olhando pro céu, ainda estava cansada e as vezes dava uma piscada sonolenta, foi em uma dessas que teve a impressão de ter visto um homem alado voando entre as nuvens, se levantou rapidamente e quase caiu da janela tentando enxergar melhor, mas não viu mais nada, talvez tivesse sido apenas o seu cansaço fazendo efeito, deitou novamente na cama e depois de alguns minutos adormeceu.


Escuto pequenos barulhos pertos da porta, mas não deu bola pensava que fosse os seus pais chegando, os barulhos continuaram, pequenos passos que foram aumentando gradativamente, ela abriu um dos olhos e viu dezenas de insetos passando por baixo da porta, dezenas viraram milhares o quarto ficou completamente tomado, Karine ficou encima da cama apavorada, formigas, aranhas, e qualquer outro tipo de inseto rastejante cobriram o chão formando um tapete.

Uma formiga do tamanho de um celular tenta subir encima da cama, ela tenta chuta-la, o bicho tinha pressas enormes que morderam o seu dedo, pela dor Karine sabia que não estava sonhando, alguns dos insetos menores conseguem subir na cama, outros maiores começam a balançar a cama tentando faze-la sair de cima, Karine se desespera quando os insetos pequenos começam a subir na cama, a porta é aberta abruptamente pelo vento forte, ela pula da cama e corre porta a fora com alguns insetos ainda nos seus pés grudados. Corre pela rua meio sem rumo ainda assustada com o que tinha acontecido, sem prestar atenção nas coisas em sua volta tropeça em um anão que lhe faz uma cara feia, quando levanta estava na entrada do circo.


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