O piso que era branco como porcelana,
agora estava vermelho, e por um motivo bem macabro. Havia sangue por toda a
parte, ele nunca mais iria esquecer aquele tom de vermelho. Era tão escuro que
os distraídos poderiam crer que era cor de vinho quase ficando preto. O cheiro
parecia uma entidade viva, impregnava o nariz com força, como o soco de um
boxeador.
Ele sentou na cadeira, também
ensopada de sangue. Não tinha outro lugar pra ficar no momento. Suas pernas
estavam bambas, não conseguia mais sustenta-las em pé. Limpou um pouco de cima
do acento, o que nessa altura era um pouco desnecessário, pois ele mesmo também
estava encharcado de sangue. Ambas suas mãos tremiam sincronizadas, parecia que
tinham achado o mesmo ponto, e esse ponto era o pavor.
No meio daquela catástrofe que estava
inserido, ele veio engatinhando calmamente e sorridente, como se estivesse em um
parque de diversões. Na primeira vista, parecia apenas um bebê lindo e fofo no
meio daquele pandemônio. Mas ele sentado ali sabia da terrível verdade. O bebê
veio se aproximando dele, não tinha mais medo, tinha aceitado a sua morte, só
queria que fosse rápida.
Chegou na sua perna, o mais estranho
é que ele não se sujava com o sangue, permanecia limpo. Agora se comportava
como um bebê normal, bateu na sua perna com aquelas mãos rosadas e pequenas. Parecia
querer ser pego no colo. Ele olhou com estranheza, não sabia como reagir ao que
estava sendo sugerido.
Aquele momento de indecisão pareceu
uma eternidade. Aquele bebê com um dos braços esticados, sorridente pra ele,
parecendo ser a criatura mais inofensiva e inocente do mundo. Mesmo se tremendo
todo pegou o bebê. O colocou contra seu ombro, não queria olhar pra ele.
Era bem pesado, e já estava do
tamanho de um bebê de vários meses, apesar de só ter nascido recentemente. Riu e
se sacudiu no seu colo, teve vontade de joga-lo longe, mas ainda parecia
normal, e não o monstro que tinha feito tudo aquilo. As coisas pareciam tão
confusas e complexas no momento. Ele já não sabia mais o que pensar.
Sua tensão e medo foi diminuindo
conforme o tempo foi passando com aquele bebê no colo. Pensou que ele tinha
voltado ao normal. Ficou ali embalando ele durante um tempo, por alguns
segundos imaginou que tudo estava normal. Mas foi apenas um vislumbro. O bebê
ficou duro, e falou baixinho no seu ouvido. ” – Você será minha testemunha! ”.
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