"Tornei-me insano, com longos intervalos de uma horrível sanidade" - Edgar Allan Poe

W. R. SANTHOS

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Escritor. Pintor. Cineasta Amador.

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quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

O Filho - parte 3






Fiquei parado atrás do volante dentro do carro. Minha coragem estava sendo testada naquele momento. O suor escorria por todo o meu corpo, minhas mãos tremiam mais que vara verde. A buzina não faria mais barulho do que meu coração batendo naquele momento. Olhei pelo espelhinho, e me encarei durante um longo tempo, aquele reflexo através dele parecia de outra pessoa. Pensei em tudo o que poderia pensar, na minha família, meus amigos, as coisas que já fiz durante essa vida, e tudo que ainda gostaria de fazer. Mas eu tinha feito um juramento, e apesar de todo o meu pavor, deveria cumprir. Finalmente girei a chave, e afundei o pé no acelerador.

Passava pelos carros em alta velocidade, cortei alguns no percurso quase batendo. Meus pés estavam fora de controle, parecia que eu, inconscientemente, quisesse bater em um, para não ter que chegar no meu destino. O clima tinha ficado horrível, estava abafado e nublado. As pessoas na rua pareciam, para mim, viver em outra dimensão, tamanho era a minha desconexão com o resto.


Já quase chegando, tive que parar em uma blitz. Encostei o carro. Mesmo não tendo nada a esconder da polícia, estava nervoso, mas meus motivos eram outros. Me atrapalhei todo pra entregar minha documentação. Eles ficaram em alerta quando notaram meu estado um pouco alterado. Mandaram eu sair do carro, fiz teste do bafômetro e outras coisas que pediram. Inventei uma história que precisava fazer uma cirurgia com urgência, pois a paciente estava morrendo, depois de verificarem que eu era realmente médico, me liberaram.

Agora estava muito perto do meu destino. Mal conseguia guiar a direção de tanto que tremia. Virando a esquina senti o impacto. Um carro bateu de frente em um cruzamento. Não faço ideia se foi culpa minha ou não, mas o carro rodou e não capotou por pouco. Bati com a cabeça no volante, por algum motivo meu airbag não acionou. O motorista saiu brabo de dentro do carro, ao mesmo tempo que ele xingava no lado de fora, meu celular não parava de tocar.


Com tudo resolvido, mesmo tonto e com um corte no supercílio, segui meu caminho. Uma leve chuva começou a cair, fina e espaça. A roda direita tinha sido afetada, mesmo amassada continuou a rodar.

Cheguei na frente da casa. Ninguém estava na minha espera. Esperei um tempo pra sair do carro, estava tudo muito calmo. Olhei em volta esperando pelo pior, mas não vi absolutamente nada. No lado da casa existia um enorme matagal. A porta da propriedade estava entre aberta. Desci do carro e caminhei até lá.

A casa estava toda bagunçada, como se alguém tivesse invadido o local. Cheguei a cogitar chamar a polícia, mas escutei os gritos vindos do matagal. Nessa hora eu não pensei duas vezes. Corri pra dentro da mata fechada.

Os gritos continuavam, mas mesmo eu indo em direção permaneciam distantes, nunca conseguia chegar na sua origem. Até que tive que parar abruptamente. Uma coisa que não deveria estar ali, estava parada na minha frente. Eu já tinha escutado uma história relacionada com isso em um podcast, mas sempre achei muito absurda, mas agora diante de mim, fiquei totalmente apavorado. Uma escadaria, mas não aquelas portáteis, que os trabalhadores carregam, e sim uma de casa, aquelas fixas na estrutura, essa era de mármore. Estava fixa no chão de terra e grama. Tinha um tapete vermelho cuidadosamente colocado encima dela, estava limpo, perfeito como se fosse novo.


Passei por ela em uma distância considerável, quando já a tinha deixado pra trás, virei para dar uma última olhada, mas ela havia desaparecido. Finalmente encontrei o casal, ela estava no chão, toda ensanguentada, o marido de pé ao seu lado olhando fixamente pra frente como se tivesse hipnotizado.

O marido olhava um bode preto caído no chão, era enorme. Não falei nada, por algum motivo não queria quebrar o silêncio. Fiz gestos, mas nem ele ou ela prestaram atenção. Me aproximei deles, foi aí que ela me apontou pro bode.

Ele que aparentava estar morto. Começou a se mexer, mas somente seu estomago. Achei que fossem vermes, ou alguma outra movimentação estomacal. Não era apenas isso. Os movimentos se intensificaram, e começaram a passar para outras partes do corpo, era como se alguma coisa viva e grande, estivesse dentro dele. A garganta inchou, a boca esticou. Fiquei tão apavorado com o que vi, que caí de joelhos. Aquele maldito bebê saiu de dentro do bode sorridente.



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