"Tornei-me insano, com longos intervalos de uma horrível sanidade" - Edgar Allan Poe

W. R. SANTHOS

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Porto Alegre, Rs, Brazil
Escritor. Pintor. Cineasta Amador.

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sexta-feira, 20 de abril de 2018

A Caça





Lucas estava completando seus 18 anos, e seu pai Teodoro tinha algo especial para ele, sua primeira arma, uma Mossberg calibre 12, eles iriam caçar javalis. Não era a primeira vez que fazeria isso, mas agora teria sua própria arma, e finalmente poderia ser ele que acabaria com a pressa.

Ele acordou cedo, antes mesmo do sol nascer, seu pai já estava de pé pronto pra sair, tomou apenas um café e foram para empreitada. Saíram com a caminhonete lotada de armas e armadilhas, pretendiam ficar fora o dia inteiro. Uma fina chuva já caia naquele dia recém-nascido junto com um vento gelado constante, mas nada, pensou Lucas, iria estragar aquele dia, sua ansiedade para estrear sua arma nova era muito grande.



Com suas roupas camufladas e táticas, Teodoro era profissional na caça, vinha de uma família que isso não era apenas uma aventura, mas sim um meio de vida, ele já perdeu as contas de quantos animais já tinham empalhados e faziam parte da decoração da cabana.

Entraram na mata fechada, o dia parecia que não tinha amanhecido, o sol estava tapado por pesadas nuvens cinzas quase pretas, que junto com a chuva deixou aquela caçada bem difícil e perigosa, mas era o que os dois mais gostavam.



Lucas pegou sua arma novíssima e foi com seu pai mata a dentro. Seguiram as pegadas de um javali, não demoraram muito e encontraram, era apenas um filhote sozinho, ele tentou correr, mas não conseguiu se livrar dois, com um tiro certeiro que pegou parte do focinho e acertou bem na cabeça. Lucas foi quem disparou, a arma fez um estrago bem grande, ele comemorou como nunca antes, mas parou com o barulho que veio de onde estacionaram.


Correram para ver o que estava acontecendo, e encontraram o carro todo destruído com furos e marcas de presas em volta, todas as armas tinham sido mastigadas e estavam fora de uso. Teodoro nunca tinha visto um javali fazer aquilo, e se fosse mesmo um javali, seria o maior que já encontraria em toda a sua vida.

Animados com o enorme animal que poderiam matar, foram de novo mata a dentro. Não demorou muito pra acharem o rastro. Mas o que eles não esperavam é que não fosse apenas um, mas encontraram pelo menos uns dez, pouco maiores que um carro.


Teodoro tentou salvar o filho, mas eles os cercaram, como se soubessem o que eram. Ficaram parados olhando pros dois respirando forte, dispararam diversos tiros em vão, os javalis gigantes pareciam não se machucar com eles, o primeiro veio com tudo e perfurou o estômago de Teodoro com seus dentes salientes e enormes, mas ele permaneceu vivo agonizando para ver seu filho ser devorado vivo, pra em seguida ser sua vez.



sexta-feira, 13 de abril de 2018

Um Diferente Entre Nós




Punta Arenas é uma pequena cidade aqui do Chile, localizada na Península de Brunswick, o cemitério Municipal é uma das principais atrações daqui, tem um belo jardim e mausoléus impecavelmente construídos de forma a recriar o estilo de vida de seus donos, eu e minha família moramos quase que no lado, quando pequeno tinha medo do lugar, mas hoje em dia aproveito o lugar pra ganhar dinheiro com os turistas.

Eu sou o mais velho de três irmãos, vivemos uma vida pacata sem luxo, mas nunca passamos necessidades. Ontem eu estava olhando a televisão e vi uma notícia que um pequeno satélite iria cair perto da nossa cidade, era algum tipo de desativação, mas até ele passar a atmosfera com a entrada chegaria em solo do tamanho de uma moeda, sem perigo nenhum, seria uma pena, pois se algo grande acontecesse, muitos mais turistas iriam aparecer, e imagina se caísse perto do cemitério, estaríamos ricos.

Assim que o sol se pôs, um rastro de fumaça cortou o céu, e caiu no lado de nossa casa fazendo um grande estrondo. Fiquei intrigado, como uma coisa do tamanho de uma moeda poderia fazer tanto estrago. Olhamos pela janela e o buraco era enorme e em volta algo que nunca tinha visto, fogo na terra remexida. Como pensávamos que fosse o pedaço de satélite, meu pai esperou o fogo baixar e fomos todos pra rua ver aquele grande evento, até o nosso cachorro que estava embaixo da mesa com medo foi junto.


Mas o que vimos não foi algo de metal, mas sim um pedaço de rocha arredondado com um buraco no meio. Era um meteoro, meu pai abriu um sorriso, poderíamos expor ele e ganhar um bom dinheiro. Meus irmãos pulavam e cantavam em volta alegres.

          A alegria se tornou tensão, o meteoro começou a tremer, uma gosma roxa começou a sair de dentro, aquilo parecia estar viva, e realmente estava, pulou no meu irmão menor, entrou dentro dele pela boca, nariz, orelhas e olhos. Fiquei imóvel aterrorizado com a cena, meus pais o pegaram, mas ele estava diferente, se livrou deles e começou a falar uma língua estranha com um som metálico, o cachorro não parava de latir pra ele, aquela gosma tinha tomado o controle de meu irmão. Pegou um pedaço de pau e tentou bater na gente, todos nós tentamos segura-lo, mas a força dele era muito maior que o normal, ele derrubou todos nós, caímos desacordados no chão, quando acordados meu irmão estava enforcado em uma árvore.


Voltamos pra casa atordoados com o que tinha acontecido, meu pai levou o corpo de meu irmão pra dentro. A gosma tinha saído de dentro dele, mas para onde tinha ido era um mistério, estava desconfiado que tinha entrado em um de nós enquanto estávamos inconscientes, mas quem seria? Precisava ficar de olho, se não teríamos que enterrar outro de nós.

Meu pai tinha uma arma dentro do armário, a peguei, a única certeza que tinha era que eu não era aquela gosma, mas se fosse nosso pai estávamos perdidos, então precisava proteger minha mãe e meus irmãos que restaram.


Fiquei de olho em todos, minha família corria risco, meu pai estava estranho, levou o corpo sem vida de Matias pro seu quarto. Não poderia arriscar fui atrás dele no quarto, era ele, eu sei, bem obvio, o que eu vou fazer? Minha mãe estava chorando demais na sala junto com meus irmãos, eu tenho que fazer algo, a gosma ia tomar conta de todos nós, ele estava de joelhos de costa pra mim, apontei a arma, ele se vira e eu atiro.

Agora meu pai estava ali no chão com um buraco na cabeça em volta de muito sangue que escorria pelo chão. Minha mão estava doendo, nunca tinha atirado antes, deu um coice que tremeu meu braço. E o barulho foi alto e seco seguido do impacto de meu pai caindo no chão. A gosma não saiu de dentro dele.

Minha mãe chegou logo em seguida, quando viu o pai no chão e eu com uma arma na mão entrou em desespero, e partiu pra cima de mim, tentei segura-la, mas ela estava com uma loucura nos olhos, naquela luta a arma disparou. Minha mãe caiu de joelhos com a barriga sangrando, era ela agora tenho certeza, com mais dois disparos no peito ela cai morta no chão.


A gosma também não saiu dela, agora sou eu que estou em desespero, só podia ser um dos meus dois irmãos que estavam na sala, ou era Romano ou a Valentina. Fui até a sala correndo, os dois estavam abraçados no sofá chorando e o cachorro latindo pra eles. Com certeza era um deles, mas agora qual? Não podia arriscar logo agora, eu sinto muito mais tenho que matar os dois.

O cachorro morde a perna de Romano e eu atiro no reflexo, a bala pega no seu ombro, Valentina assustada corre para a porta e eu atiro nas suas costas duas vezes, ela cai morta no chão. Romano ainda estava vivo e se arrastava tentando fugir, eu chego perto dele e atiro na sua cabeça, agora sim a gosma tinha sido eliminada.

Eu caminho até a rua, o sol já estava iluminando tudo, o nosso cachorro passa por minha perna e se vira pra mim, seus olhos estavam roxos. Ele corre pra longe, eu atiro, mas não consigo acerta-lo. Volto pra dentro de casa e vejo tudo o que eu fiz, sobrou apenas uma bala na arma, eu aponto pra minha cabeça e aperto o gatilho. 




sexta-feira, 6 de abril de 2018

A Vela




A terceira grande guerra finalmente aconteceu, e teve consequências inimagináveis, noventa por cento da população mundial foi dizimada brutalmente pelas bombas e conflitos, mas isso não foi tudo o que aconteceu, não sabemos se foi uma bomba ou algum experimento de cientistas loucos, criou-se um buraco na realidade e criaturas misteriosas invadiram nosso mundo agora indefeso e quase morto. Essas criaturas misteriosas tinham uma fraqueza não gostavam de luz, o único problema disso tudo é que não existia mais energia elétrica.

Nosso estoque de velas durou quase um ano, sobraram poucas agora, tínhamos que manter a fogueira acessa durante toda a noite, nunca dormíamos ao mesmo tempo, eu era responsável, como mais velho dos filhos, de ficar acordado quando era o meu turno, era imprescindível essa rotina, porque os monstros estavam à espreita, se a escuridão tomasse conta eles atacariam ferozmente sem deixar rastros. 


Já se passaram três anos que a terceira e última guerra acabou, e a civilização parece que dessa vez não vai se recuperar, além da destruição quase total das cidades, esses monstros impediam o avanço humano novamente. Eu nunca vi nenhum deles, por sorte sempre conseguimos manter a luz com nós, o mais perto que chegamos de uma vista deles, foi com nossos falecidos vizinhos há 6 meses, escutamos apenas os barulhos horríveis deles sendo devorados, meu pai queria ir ajuda-los, mas minha mãe estava muito doente na época e temia pela sobrevivência de todos nós. Não sabíamos como eram, o que eram, sabíamos apenas que eram selvagens e se alimentavam da gente.


Hoje o dia está agitado, só sobrou uma única vela, e alguns fósforos para acende-la. O inverno estava rigoroso, e junto com o frio uma chuva fina constante. Toda a madeira que poderia servir para fazer a fogueira estava úmida e dificilmente seria possível atear fogo nela.



O dia já estava chegando no fim, e meu pai não estava conseguindo fazer a fogueira, tínhamos então que fazer um plano b, ficaríamos trancados em casa no escuro mesmo, e quando os monstros chegassem ascenderíamos a vela e eles fugiriam, se tivermos sorte tudo ocorreria bem.

A noite finalmente chegou, a tensão entre nós era grande, esse poderia ser o fim. Des que os monstros chegaram ninguém tinha sobrevivido aos ataques deles, se a estratégia desse certo seríamos os primeiros.

Meu pai trancou a casa com tudo o que tinha disponível, geladeira e fogão na porta bloqueando a passagem, fomos pro quarto e ficamos ali na expectativa, quase duas horas se passaram e nada de algum movimento. Minha mãe tremia dos pés à cabeça, mas mesmo assim nos segurava forte, tão forte que estava quase nos machucando. Tenho quase certeza que ela estava escutando o meu coração bater, porque ele estava em um ritmo super acelerado.


Depois do que pareceu uma eternidade, eles chegaram. O barulho que faziam era horripilante, não parecia com nada que existisse na terra, se pudesse descrever seria uma mistura de choro de bebê com um urro de urso agonizando. Esse som parecia chegar na nossa alma e parti-la ao meio.


Meu pai visivelmente estava assustado também, mas mantinha a postura por todos nós. Ele pegou a vela e acendeu com o ultimo fosforo que tínhamos. A fresta de luz que passou pela porta fez o barulho silenciar e os movimentos cessarem.

A vela não ia aguentar a noite inteira acessa, e não tínhamos certeza se os monstros tinham ido embora. Quando a vela estava pela metade, meu pai resolveu verificar, precisava fazer isso, precisava ter certeza que tinham fugido, pois a vela seria importante pro dia seguinte.

Durante um longo tempo não escutamos nada quando o pai nos deixou, a ansiedade estava matando a gente por dentro, minha mãe agora chorava descontroladamente, parecia prever que o pior aconteceria, e aconteceu. O som voltou com tudo, e agora misturado com os gritos de dor do pai, e depois silencio absoluto novamente.



Pela nossa percepção do tempo faltava uma hora pra amanhecer, mas a vela estava no fim, tudo na casa que poderia pegar fogo já tinha sido utilizado, cortinas, mesas, cadeira, panos, nossas roupas que sobraram úmidas não queimaram com a pequena chama. A chama já oscilava, pois estava bem perto da base.

A mãe nos apertou ainda mais, pude sentir todo o seu amor por nós, meus irmãos de olhos fechados apenas esperando o fim. A parafina tinha chegado ao fim, o ultimo centímetro de fiapo da corda estava queimando, minha mãe no desespero com o ultimo resquício da chama tentou colocar fogo nela mesmo, mas também em vão.

A luz desapareceu, a vela se apagou. 



LENDAS URBANAS

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