"Tornei-me insano, com longos intervalos de uma horrível sanidade" - Edgar Allan Poe

W. R. SANTHOS

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Escritor. Pintor. Cineasta Amador.

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sexta-feira, 6 de abril de 2018

A Vela




A terceira grande guerra finalmente aconteceu, e teve consequências inimagináveis, noventa por cento da população mundial foi dizimada brutalmente pelas bombas e conflitos, mas isso não foi tudo o que aconteceu, não sabemos se foi uma bomba ou algum experimento de cientistas loucos, criou-se um buraco na realidade e criaturas misteriosas invadiram nosso mundo agora indefeso e quase morto. Essas criaturas misteriosas tinham uma fraqueza não gostavam de luz, o único problema disso tudo é que não existia mais energia elétrica.

Nosso estoque de velas durou quase um ano, sobraram poucas agora, tínhamos que manter a fogueira acessa durante toda a noite, nunca dormíamos ao mesmo tempo, eu era responsável, como mais velho dos filhos, de ficar acordado quando era o meu turno, era imprescindível essa rotina, porque os monstros estavam à espreita, se a escuridão tomasse conta eles atacariam ferozmente sem deixar rastros. 


Já se passaram três anos que a terceira e última guerra acabou, e a civilização parece que dessa vez não vai se recuperar, além da destruição quase total das cidades, esses monstros impediam o avanço humano novamente. Eu nunca vi nenhum deles, por sorte sempre conseguimos manter a luz com nós, o mais perto que chegamos de uma vista deles, foi com nossos falecidos vizinhos há 6 meses, escutamos apenas os barulhos horríveis deles sendo devorados, meu pai queria ir ajuda-los, mas minha mãe estava muito doente na época e temia pela sobrevivência de todos nós. Não sabíamos como eram, o que eram, sabíamos apenas que eram selvagens e se alimentavam da gente.


Hoje o dia está agitado, só sobrou uma única vela, e alguns fósforos para acende-la. O inverno estava rigoroso, e junto com o frio uma chuva fina constante. Toda a madeira que poderia servir para fazer a fogueira estava úmida e dificilmente seria possível atear fogo nela.



O dia já estava chegando no fim, e meu pai não estava conseguindo fazer a fogueira, tínhamos então que fazer um plano b, ficaríamos trancados em casa no escuro mesmo, e quando os monstros chegassem ascenderíamos a vela e eles fugiriam, se tivermos sorte tudo ocorreria bem.

A noite finalmente chegou, a tensão entre nós era grande, esse poderia ser o fim. Des que os monstros chegaram ninguém tinha sobrevivido aos ataques deles, se a estratégia desse certo seríamos os primeiros.

Meu pai trancou a casa com tudo o que tinha disponível, geladeira e fogão na porta bloqueando a passagem, fomos pro quarto e ficamos ali na expectativa, quase duas horas se passaram e nada de algum movimento. Minha mãe tremia dos pés à cabeça, mas mesmo assim nos segurava forte, tão forte que estava quase nos machucando. Tenho quase certeza que ela estava escutando o meu coração bater, porque ele estava em um ritmo super acelerado.


Depois do que pareceu uma eternidade, eles chegaram. O barulho que faziam era horripilante, não parecia com nada que existisse na terra, se pudesse descrever seria uma mistura de choro de bebê com um urro de urso agonizando. Esse som parecia chegar na nossa alma e parti-la ao meio.


Meu pai visivelmente estava assustado também, mas mantinha a postura por todos nós. Ele pegou a vela e acendeu com o ultimo fosforo que tínhamos. A fresta de luz que passou pela porta fez o barulho silenciar e os movimentos cessarem.

A vela não ia aguentar a noite inteira acessa, e não tínhamos certeza se os monstros tinham ido embora. Quando a vela estava pela metade, meu pai resolveu verificar, precisava fazer isso, precisava ter certeza que tinham fugido, pois a vela seria importante pro dia seguinte.

Durante um longo tempo não escutamos nada quando o pai nos deixou, a ansiedade estava matando a gente por dentro, minha mãe agora chorava descontroladamente, parecia prever que o pior aconteceria, e aconteceu. O som voltou com tudo, e agora misturado com os gritos de dor do pai, e depois silencio absoluto novamente.



Pela nossa percepção do tempo faltava uma hora pra amanhecer, mas a vela estava no fim, tudo na casa que poderia pegar fogo já tinha sido utilizado, cortinas, mesas, cadeira, panos, nossas roupas que sobraram úmidas não queimaram com a pequena chama. A chama já oscilava, pois estava bem perto da base.

A mãe nos apertou ainda mais, pude sentir todo o seu amor por nós, meus irmãos de olhos fechados apenas esperando o fim. A parafina tinha chegado ao fim, o ultimo centímetro de fiapo da corda estava queimando, minha mãe no desespero com o ultimo resquício da chama tentou colocar fogo nela mesmo, mas também em vão.

A luz desapareceu, a vela se apagou. 



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