"Tornei-me insano, com longos intervalos de uma horrível sanidade" - Edgar Allan Poe

W. R. SANTHOS

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Porto Alegre, Rs, Brazil
Escritor. Pintor. Cineasta Amador.

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sexta-feira, 22 de abril de 2016

Manicômio - Parte 1



Relatos


A maioria das freiras já tinha abandonado aquele manicômio que era administrado pela igreja, os boatos eram vários, o mais forte era que as crianças internadas ali estavam possuídas pelo tinhoso, o diabo. A freira Dorothy foi a ultima a abandonar o local, em uma noite fria de outono deitada na sua cama pronta pra dormir com uma vela no lado da cabeceira, um sopro vindo de onde ela não identificou apagou a chama da vela, a freira costumava a deixar o seu cãozinho vira-lata dormindo embaixo da cama, e sempre abaixava a sua mão pra ele dar uma lambida, e foi isso que ela fez quando a vela se apagou de repente, a presença dele sempre a deixava mais confiante, escutou alguns barulhos no seu pequeno banheiro, recebeu outra lambida do seu cão embaixo da cama e se levantou. Abriu a porta de madeira e não havia ninguém ali, mas viu algo escrito no espelho, acendeu a vela e leu “Nós também gostamos de lamber!”, ela gelou, sentou na tampa da privada, notou que tinha alguma coisa que estava deixando a tampa entre aberta, quando abriu era o seu cão dilacerado, ao soltar um grito de pavor algo saiu correndo debaixo da sua cama  desaparecendo no corredor escuro.


Depois da saída de Dorothy as coisas ficaram um pouco mais calmas, o Bispo Alfredo que assumiu o local há pouco tempo achava essas historias fantasias de freiras sem vocação, as crianças internadas naquele local mereciam um tratamento da ciência e não de contos noturnos, o que era um pouco hipócrita pra uma pessoa que vive pela religião, muitos achavam, nesses incluíam o Padre Samael, que o Bispo recebia dinheiro de alguns estudiosos.


Quarenta crianças entre 5 até 16 anos estavam internadas ali no momento, muitas delas gritavam a noite inteira dizendo que alguma coisa estava dentro delas, alguns iam mais afundo e se mutilavam com o que encontrassem pela frente. Em uma noite uma delas com uma tesoura que pegou escondida conseguiu arrancar boa parte da pele do seu peito, o Padre Samael vomitou diversas vezes naquela noite terrível, o menino Taylor tinha apenas oito anos e não passou dessa idade, os ferimentos o mataram em dois dias, ele foi enterrado no cemitério atrás do manicômio.


Desejo

A freira mais jovem era Judity de 22 anos, foi chamada pra lá como pedido especial do Bispo Alfredo, olhos verdes, rosto de anjo, parecia ser extremamente inocente, seus pais tinham morrido de tuberculose e durante o enterro disse ter visto no céu a imagem de Jesus, abdicou de tudo e seguiu sua vocação. Padre Samael diversas vezes a viu saindo de dentro da sala do Bispo durante a noite, alguma coisa estava errada e ele sabia.

- Posso perguntar o que estava fazendo a essa hora dentro dos aposentos do Bispo? – o Padre perguntou.

- Estava apenas o ajudando em algumas cartas. – notou que ela tinha grandes olheiras, mas não pode continuar com os questionamentos, um grito alto de uma das crianças os interrompeu.

Trevas

Os gritos eram do garoto do quarto 16, era o único que não tinha um nome, ele foi abandonado na porta do manicômio um ano atrás, estava desacordado e assim permaneceu até o momento. Quando o Padre chegou diversas freiras estavam na entrada da porta, mas nenhuma com coragem para entrar, ele abriu caminho e entrou, o que viu foi o garoto sentado na cama com um sorriso estranho no rosto, era um pouco malicioso como se estivesse querendo fazer algo muito ruim, o Padre chegou com cautela nele.


- Oi! Bom que acordou finalmente.

- AÇAEMA AMU ÉZUL A EDNO OROME IAPMES OHLIFMU UOSUE! – disse essa frase com uma voz que parecia metálica.

- Que? – o Padre se assustou e recuou.

O garoto ficou de pé na cama, estava muito magro, no período em que estava em um tipo de coma só se alimentava por líquidos, arrancou as roupas que estava vestindo, suas costelas e braços finos ficaram a mostra, seu corpo também estava todo marcado por cicatrizes antigas e diversas outras recentes que o padre pode notar que algumas eram feitas por cigarro. Ele caminhou até o Padre que recuou mais ainda, os olhos do garoto ficaram pretos, a porta se fechou com uma forte batida, a janela que estava aberta deixava entrar agora uma forte ventania que dificultava a visão do Padre que estava de frente para ela, o garoto então pula encima dele o derrubando no chão, montado encima dele o garoto começa a rezar o “pai nosso”.


- Pai nosso que estás nos céus, santificado seja o Vosso nome, venha a nós o Vosso Reino. Seja feita a vossa vontade, assim na Terra como no Céu. Viu Padre ridículo, nós não temos medo, me ajude pobre homenzinho fraco, eu sei que tu me queres! – o padre tentou sair, mas o garoto apesar de sua magreza estava extremamente forte.

- Vá de retro satanás, em nome de Jesus Cristo, me dê forças.

- Nós não temos medo lixo. – o garoto vomita sangue encima do padre. – Sinta meu sangue padre, sinta o que eu sinto, o sangue sagrado dele.

O Padre estava coberto pelo sangue do garoto que continuava com aquele sorriso diabólico no rosto, estavam tentando arrombar a porta do outro lado sem sucesso. O garoto começa a dar tapas no rosto do padre com violência, e com as unhas arranhando, no desespero ele consegue se virar e engatinhar pra longe, mas é puxado novamente pelo pé, então com o crucifixo que encontrou no chão crava no pescoço do garoto, começa a se contorcer no chão urrando algumas palavras que o padre não conseguiu identificar, uma espécie de fumaça preta envolve o corpo do garoto, por uma fração de segundos o padre teve a impressão de ter visto um rosto se formando na fumaça, o garoto é jogado por uma força invisível no teto e logo depois com mais violência ainda no chão, sua cabeça é esmagada pelo impacto, a fumaça desaparece, o padre se levante em meio dos miolos no chão, a porta finalmente é aberta, logo depois dos gritos histéricos das freiras com a visão do corpo sem cabeça, o Bispo aparece no quarto.


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