"Tornei-me insano, com longos intervalos de uma horrível sanidade" - Edgar Allan Poe

W. R. SANTHOS

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Escritor. Pintor. Cineasta Amador.

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sexta-feira, 19 de agosto de 2016

Castelo Profano


A carruagem vinha balançando como um navio no meio da tempestade, eu intercalava entre momentos de alucinações e lucidez, alguém tinha me envenenado, tenho quase certeza que fora alguém da minha família querendo receber a herança mais cedo, a culpa de certa forma era minha, incentivei a disputada e a trapaça como meios de conseguir a minha admiração e ter uma fatia maior nas terras que deixaria depois da minha morte, criei serpentes e escorpiões no meu ninho, fui duro e castiguei qualquer bondade que encontrava, e agora estou pagando por isso.

Júlio, meu criado, me levava para longe daqueles assassinos, para o castelo de um conde distante, muito amigo meu, mas fazia anos que não o visitava e muito menos ele me visitava, mandei um pombo correio avisando da minha chegada, esperava um banquete, era o mínimo para receber alguém como eu, um Arquiduque de tão grande nobreza, mesmo no meu estado ficaria ofendido se não encontrasse isso.


O que era só uma ameaça se tornou uma confirmação em segundos, uma forte tempestade caiu sobre nós, a água entrava para dentro da minha cabine sem hesitação, sorte que já enxergava o castelo no horizonte, as suas luzes acessam na minha espera, comigo vomitando praticamente meus intestinos no chão da carruagem, Júlio me levou para dentro do castelo.

Já achei um absurdo não ter nenhum criado na entrada, nem o Conde estava na minha espera, achei aquilo ultrajante, tive que descontar minha raiva em Júlio, mesmo estando mal tive que dar uns tapas para ele saber o quanto estava aborrecido. Senti uma fisgada mais forte por causa do veneno e entramos assim mesmo.

Minha visão já estava um pouco turva, tive a impressão de ver vultos entre as colunas da entrada, mas Júlio disse que tinha sido apenas impressão minha, odeio quando esse criado fala baixinho e com medo de mim, criatura desprezível ele era, mas útil para mim.

Entramos na sua sala de apresentação, não era tão grande quanto o meu castelo, mas era até aceitável pra mim no momento. O teto e as paredes eram brancos com pequenos desenhos bordados em ouro em toda a extensão, algumas poltronas com almofadas vermelhas muito delicadas foi ali que finalmente sentei, não me aguentava em pé. Júlio foi ver o porquê ninguém estava na minha espera. Fiquei ali sentado com bastante dificuldade em respirar, qualquer outro movimento simples me causava uma dor imensa.

Uma criança com os olhos arregalados bastante vermelhos passou por mim me encarando, cabelo todo falhado, chamei ele diversas vezes, mas ele saiu porta a fora no meio da chuva. Aquele garoto tinha me dado calafrios, mas deveria ser apenas um filho de camponês perdido, estava com medo mesmo de que ele fosse me tocar e  passar uma doença.

Já estava ficando nervoso com a demora de Júlio, com minha bengala e bastante esforço levantei da poltrona  reparei em um quadro de uma linda mulher sentada em uma pedra, colunas gregas atrás dela e inúmeras arvores, estava com metade do corpo despido e a parte coberta com apenas uma manto branco quase transparente, seu rosto era triste, mas nem reparei muito nele, seus seios fartos eram o que me chamavam mais atenção, depois de um tempo admirando voltei a olhar o seu rosto e senti um frio na espinha, tinha certeza que seu semblante era triste, mas agora ela irradiava um sorriso maléfico, me afastei do quadro e distante pude ler a sua descrição.


“Sua face triste não reflete o seu lindo corpo, única coisa que a fará sorrir é a sua alma. ”

Não acredito nesse tipo de coisa, mas esse quadro tinha me assustado, gritei Júlio diversas vezes, mas nada dele responder ou aparecer, esse lugar já estava me aborrecendo, alguma coisa aqui está muito errada.

Caminhei até o que parecia ser a sala de jantar, a mesa era longa, cabia pelo menos trinta pessoas de cada lado, ela estava posta e cheia de comida, diversos talheres e pratos de prata, um grande peru no centro da mesa. Lá no fundo na cabeceira tinha uma pessoa sentada, devagar fui até ele saber o que estava acontecendo, quando cheguei perto era uma mulher e estava nua e muito suja, reconheci aqueles seios mesmo com toda a sujeira, ela olhou e sorriu pra mim com aquele mesmo sorriso maléfico, tirei forças de onde não tinha, com minha bengala sai dali e voltei pra onde estava.

Na sala de apresentação encontro Júlio novamente, ele estava estranho parecia aterrorizado, perguntei do porquê da demora, ele não respondeu apenas chorou, cheguei perto dele pra dar um tapa na sua cara, mas ele fez uma coisa que nunca tinha feito antes, segurou a minha mão e me empurrou no chão, eu cai de costas, aquela dor só me deixou com mais raiva, Júlio gritou alguma coisa na sua língua nativa e depois na minha língua falou que eu deveria mesmo morrer e saiu porta a fora, levantei com minha bengala, quando estava perto da porta as luzes de todo o castelo apagaram, a porta se fechou e senti uma mão me segurar pela cintura e me puxar pra escuridão.


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