Era quase meia noite e a vontade de
ir ao banheiro só aumentava. Não sei ao certo quanto tempo mais aguentaria. E
também não conseguia mudar de pensamento, tudo voltava para a minha
necessidade, que naquele ponto já era urgente. E não era só o pensamento, minha
bexiga parecia que explodiria a qualquer momento, evitei de me mexer durante um
tempo, para não acontecer nenhum acidente.
Tinha oito anos quando isso
aconteceu. O dia tinha sido agitado com brincadeiras e diversão. Era
sexta-feira, então no dia seguinte não tinha que acordar cedo para ir estudar,
tudo era só alegria. Ainda durante o dia, minha tia e primo apareceram para
fazer uma rápida visita, ela precisava falar com minha mãe, eu e meu primo
ficamos brincando no pátio.
No terreno tinha duas casas, a nossa
onde eu morava com meus pais e irmãos, e a da minha vó, que era grande e de
madeira. Eu e meu primo fomos almoçar na vó, e foi nesse momento que ele me
contou uma história. Nós, os netos, como nossa vó morava com nossa outra tia,
mas ela trabalhava de noite nos fins de semana, tínhamos o costume de dormir
com ela nesses dias.

Eles foram embora, e o dia junto com
eles. A noite finalmente chegou e com ela a notícia que me deixou mais em
choque ainda. Minha mãe disse que essa noite eu dormiria na minha vó. Dês
daquele momento fiquei tenso. Eu não tinha opção, e não queria falar que estava
com medo. Pelas 21h peguei meu travesseiro, e parti pro meu destino.

O primeiro cômodo da casa era o
fatídico banheiro, seguido de um pequeno corredor. Logo em seguida a cozinha,
depois a sala, e um longo corredor que no meio era o quarto da minha vó, e no
final o quarto da minha tia que ficava fechado.
A noite avançou e nos deitamos na
cama. Ela tinha o costume de assistir o “Programa do Ratinho”, e ele tinha um
quadro no final do programa de casos sobrenaturais, isso só me deixou ainda
mais com medo.

Com minha vó já dormindo há muito
tempo, não aguentei mais a vontade de ir ao banheiro. Levantei devagar, estava
um pouco frio, e somado com meu medo, eu me tremia todo. A cada passo que eu
dava, aquela madeira velha do chão fazia um barulho aterrorizador. Passar pela
sala era um grande desafio, ela era grande e tinha luzes pisca-pisca de natal,
que minha vó deixava acessa o ano inteiro. Isso deixava sombras assustadoras
naquele cômodo da casa, o interruptor da lâmpada do teto ficava longe, então
não era uma opção.
Passei pela sala olhando sempre reto,
não olhando para totalidade do local. Assim que cheguei na cozinha acendi a luz
do lugar, esse interruptor ficava já na entrada. Passei sem problemas, mas ela
me levava ao inevitável encontro com meu destino final, o banheiro.
Fiquei parado na entrada, com medo,
mas tinha um problema, estava muito apertado. Então entrei e acendi a luz. A
pequena janela de vidro, que ficava mais alto do que eu poderia alcançar estava
entre aberta. A minha urina parecia que estava saindo com cacos de vidro,
tamanha era a minha tensão.
Enquanto tremia tentando não urinar
no chão, ficava de olho na janela. Finalmente terminei, não tive coragem de
fazer qualquer outra coisa ali, sai rapidamente. Passei pela cozinha e apaguei
a luz, quando estava atravessando a porta uma mão me segura pela camisa.