"Tornei-me insano, com longos intervalos de uma horrível sanidade" - Edgar Allan Poe

W. R. SANTHOS

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Escritor. Pintor. Cineasta Amador.

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terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Feitiço Africano



A casa estava cercada, apesar das grossas cortinas que cobriam as janelas, nitidamente dava pra ver as tochas incandescentes que formavam um murro de fogo quase que intransponível pra quem quisesse ultrapassa-la. A gritaria no lado de fora era alta, uma voz parecia se destacar na multidão de negros raivosos querendo vingança contra seus senhorios, seu nome era Niara, tratada pelos escravos como a reencarnação da deusa OYÁ, que em outros países era conhecida como Iansã, essa deusa surge como uma autentica guerreira; está presente tanto nos campos de batalha; como nos caminhos cheio de luta.

Adelaide “mão pesada” como era conhecida entre os negros porque gostava de chicotear ela mesmo alguns escravos fujões, e quem pensa que por ser mulher ela batia mais fraco que o capataz, se enganava, pois seu apelido já demonstrava isso. O seu marido era um coronel com dezenas de mortes nas costas, ao contrário de sua mulher que adorava punir, ele adorava matar, principalmente aqueles que ficavam doentes ou os que não podiam mais dar lucros. O casal tinha duas filhas que eram conhecidas por suas feiuras, e também por obrigar alguns escravos a dormir com elas, o que era um boato absurdo para o Joaquim Fonseca.

- Vamos meu povo, vamos acabar com esses tiranos, a nossa era começa agora. – Niara gritava em meio ao alvoroço.

Joaquim pega a espingarda que estava com o capataz, abre uma das cortinas e mira em Niara e atira, a bala não chega a atingi-la, um negro pula na sua frente e recebe a bala, assim acontece com outros três disparos dele. Todos os outros funcionários da fazenda já haviam fugido, só restavam na casa o casal, suas filhas e o capataz.

A gritaria silenciou, houvesse apenas um canto africano bem baixinho em coro, aos poucos as tochas foram sendo apagadas, Niara começou a recitar algumas palavras, relâmpagos começaram a cruzar o céu, mesmo sem nenhum indicio de chuva, o vento ficou mais forte, o capataz tremia de medo com o que estava por vir.

- O que vosmicê tem? - Joaquim perguntou.

- Nunca deixe eles cantarem juntos... Nunca deixe eles cantarem juntos.

Essas palavras do capataz fizeram Adelaide "mão pesada" abraçar as suas filhas, enquanto Joaquim observava pela janela Niara se contorcer pelo chão, depois levitar rodopiando no ar, a lua desapareceu do céu e com um estalo metálico seco a cantoria cessou.

O silêncio tomou conta da fazenda, todos os escravos estavam calados, dentro da casa ninguém também se atrevia a pronunciar palavra alguma. O clima tinha mudado, eles podiam perceber que alguma coisa estava pra acontecer, a temperatura aos poucos foi caindo até eles ficarem tremendo de frio.



Uma forte batida na porta fez algumas velas da casa caírem, o capataz puxou sua espingarda, estava tremendo muito, na segunda batida ele carregou e atirou. Outra batida na porta mais forte ainda, e novamente o capataz dispara. Joaquim manda sua mulher e suas filhas subirem pro segundo andar, apavoradas elas foram.

Na próxima batida à porta, foi despedaçada como uma folha de papel, um dos pedaços de madeira voou e cravou na barriga do capataz que agonizou no chão. Joaquim que estava no chão se arrastou tentando fugir, mas foi pego por uma força invisível que o joga de um lado para o outro, seu nariz agora escorria sangue, mas quando achou que já tinha terminado é jogado com violência pra fora da casa caindo no meio dos escravos.
Com a visão embaçada, ele vê Niara se aproximar caminhando devagar, até chegar e falar no seu ouvido. – Vosmicê se lembra quando eu era apenas uma negrinha inocente? Quando me tirava da senzala e levava pra sua cama, pois bem eu nunca esqueci. Não importava se eu ainda não tivesse sangrado. – Ela puxou uma faca. – A primeira facada é minha. – E assim o fez, com uma estocada firme no seu peito, depois ele foi apunhalado por diversos escravos ao mesmo tempo.

Niara caminhou até a casa, tinha alguma coisa ao seu redor, alguma força superior caminhava ao seu lado. Adelaida estava na entrada da escada com seu chicote, quase que babando de raiva.

- Sua escrava imunda, saia da minha casa, eu amaldiçoo todos esses negros nojentos, vão pro inferno.


- É Vosmicê que vai pra lá. – Niara ficou com os olhos brancos.
Adelaide foi puxada com violência aos pés de Niara.

- Não vou precisar sujar minhas mãos com Vosmicê. – Falou com o pé na cara dela. – Vou sujar com suas filhas horrorosas. – Fez um sinal com as mãos e as duas foram trazidas até ela.


Adelaida não conseguia se mexer mais, estava paralisada por uma força enorme, só pode assistir Niara passar a faca na garganta das duas, degolou ambas, enquanto a mãe nada podia fazer, nem ao menos gritar. Do sangue das duas se formou uma criatura com enormes chifres, a “mão pesada” chorava desesperada tentando se mexer em vão, a criatura a pegou pela cintura colocou-a no ombro e desapareceu na escuridão.


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