Carlos já não aguentava o choro da sua irmã recém nascida,
ele estava com medo e assustado, sua mãe estava muito doente prestes a falecer,
assim como o seu pai no ano anterior, esta doença misteriosa estava devastando
a sua família e nenhum médico sabia o que era ou tinha uma cura. O gado já
havia morrido, a plantação tinha secado, de uma prospera fazenda sobrou apenas
um terreno baldio cheio de carcaças de animais, Carlos era muito jovem para
conseguir um bom emprego e também pra cuidar da sua irmã recém-nascida, sua mãe
está piorando cada vez mais, ela queimava feito brasa, gemia e suava, sua dor
parecia terrível e sua morte era inevitável perante a situação, sua irmã não
parava de chorar, Carlos estava no ápice do desespero, ainda tinha sobrado
alguns bons móveis dentro da casa, Carlos então decide coloca-los na caminhonete
de seu pai e vender na cidade pra comprar remédios.

Carlos chega na cidade muito assustado nunca tinha ido na
cidade sozinho, muito menos dirigindo, na primeira rua que parou foi abordado
por três homens que pareciam boas pessoas, mas assim que ele se distraiu
roubaram a sua caminhonete com todas as suas coisas.
Desolado e com raiva Carlos vagava pela cidade sem rumo ou
proposito até encontrar um mendigo com um cajado que se aproxima dele, o homem
mancava e fedia muito.
- Meu filho, tens algum trocado pra esse pobre senhor?
- Nada velho, não tenho nem pra mim.
- O que lhe aflige meu filho.
- Quem é você velho?
- Sou apenas um homem cansado, com fome, me dê essas moedas
do seu bolso.
- Claro que não velho, foi à única que me sobrou, não vou
dar pra você.
- Quem dá aos pobres recebe em dobro do senhor, aqueles que
dividem e não se apegam ao valor material preservam a sua alma no vale da
sombra e da morte.
- O que você sabe da minha vida velho.
- Ela morrerá meu jovem, não ande pelo caminho da escuridão,
as trevas consumiram a sua alma, Deus escreve certo por linhas tortas.
O velho desaparece como o vento no horizonte, o sino da
igreja toca, Carlos decide ir até lá ver se conseguia uma doação ou algo do
tipo, seus passos eram lentos e sem animo, ele desejou estar doente no lugar de
sua mãe ou morto como seu pai, na última badalada do sino Carlos entra na
igreja.
A igreja era grande, Carlos só estava acostumado com a
pequena paróquia do seu vilarejo, ele olhava tudo com atenção enquanto
procurava alguma coisa pra comer e beber. Um padre se aproxima dela, seu
sorriso era uma mistura de malícia e bondade.
- Filho coma e beba alguma coisa, todos são bem vindos na
casa do senhor.
- Obrigado, minha mãe está muito doente eu preciso de ajuda.
- Você faria tudo pra ver a sua mãe bem novamente?
- Sim senhor.
- Venha aqui fora meu filho, eu vou ser direto, eu posso
salvar a sua mãe, posso cura-la da sua doença, mas tudo tem um preço meu jovem.
- Faça isso, por favor, mas eu não tenho dinheiro.
- Eu não quero dinheiro quero outra coisa sua.
- O que, eu faço o que for.
- Eu quero a sua
alma, vá pra casa tudo vai ficar bem e daqui um ano eu volto pra receber
o meu pagamento.

- Nem pense nisso sua alma é minha.