Diário
de Pesquisa – 22 de julho de 2017 – 07h30min
Nome
Elizabeth Laura Mendonça Thompson
Fui
contatada pelo governo para fazer parte de um projeto secreto, ultra
confidencial, em um dia comum de trabalho na faculdade um Senador visitou a
minha sala e me fez o convite, mas pelo jeito que ele falou era quase uma
obrigação minha aceitar. Me fizeram assinar diversos papéis que basicamente
diziam que se eu falasse algo para alguém minha vida teria um fim, tenho dois
doutoras em Física e mais um em Engenharia Genética e ainda assim fiquei
nervosa com aquela abordagem um pouco rude.
A
única coisa que fui autorizada a fazer foi escrever um diário com minhas
pesquisas e experiências no laboratório onde iria iniciar, mesmo ainda não
sabendo o que exatamente de fato iria fazer.
A
segurança parecia ser essencial para eles, agentes de terno preto me escoltaram
da minha casa até o laboratório deles, durante a viagem peguei dois jatinhos e
depois mais três horas de carro, nessa última parte fui vendada o tempo todo,
isso me aborreceu um pouco, ainda mais que esses seguranças nem falavam e muito
menos eram delicados, pareciam robôs apenas executando ordens, eu já não
gostava deles.
Diário
de Pesquisa – 29 de julho de 2017 – 20h15min
Depois
de uma viagem cansativa finalmente chegamos ao tal lugar, estávamos em algum
tipo de deserto há quilômetros de distância de qualquer civilização, entrei em
uma base cercada por um alto arame com fios de alta tensão em todo sua
extensão, guardas com cães ferozes andavam de um lado para o outro falando com
seus rádios e escutas, única coisa que eu tinha certeza é que não era uma
estação militar, mas sim particular e talvez até ilegal, só estou nessa porque
o cheque que o Senador me deu como adiantamento era mais do que ganharia em dez
anos de trabalho.
Assim
que entrei na base fui levada até um elevador que nos desceu até o subsolo,
pelo o que pude ver pelas frestas aqui embaixo era enorme, pelo menos uns
dezoito andares abaixo. Quando paramos me mostraram os meus aposentos, é bem
grande o meu quarto, em uma mesa se encontrava a minha janta, fui orientava a
dormir e descansar, amanhã eu ia ser apresentada a toda a equipe.
Diário
de Pesquisa – 30 de julho de 2017 - 06h00min
Mal
consegui dormir queria muito saber o motivo de estar ali, enquanto me arrumava
escutei o barulho de sirenes, as luzes se apagaram e outras vermelhas se
ascenderam, no outro lado da porta pude perceber uma correria, fiquei muito
nervosa me vesti rapidamente, com os barulhos de tiros e gritos tropecei na
mesa e derrubei tudo no chão, os cacos de vidro cortaram a minha mão, amarei
com um pano rapidamente.
Alguma
coisa muito grave estava acontecendo, talvez uma invasão não sei dizer ao certo,
mas não queria ficar ali escondida dentro do quarto, abri a porta devagar,
assim que passei por ela uma cabeça humana veio rolando até os meus pés,
congelei de pavor como uma menina no escuro, não por ter visto um corpo
desmembrado, porque já tinha visto dezenas em toda a minha carreira, mas pela
criatura que tinha feito aquilo.
As
luzes piscavam em intervalos diferentes, tudo ficou escuro e quando as luzes
vermelhas voltaram uma criatura de quase três metros de altura estava na minha
frente, parecia que não tinha pele a carne era exposta, tinha apenas um olho
enorme no rosto, sem boca ou nariz, apenas aquele olho cinza fixo em mim.
Perdi
totalmente o controle do meu corpo, as gotas de suor frio escorriam pela minha
testa sem controle, senti que esse era o momento da minha morte, as luzes se
apagaram novamente e quando voltaram a criatura tinha sumido, ao invés uma
pequena menina estava no seu lugar, me aproximei e pude ver que ela tinha
apenas um olho, ela era a criatura.
Ela
chorou com aquele olho solitário e senti uma dor terrível no meu peito, parecia
ser alguma angustia, ela abriu os braços e caminhou até mim, por alguns
segundos hesitei, mas a peguei no colo, me disse que seu nome era Projeto
Karine, seu jeito de falar parecia de uma criança de dois anos, repetiu um
monte de vezes que não queria voltar para o seu cubo.
Minha
mente de alguma forma se mesclou com a dela, estava me arrastando no chão de
algum lugar sentindo muita dor, um médico veio até meu encontro senti meu corpo
mudar, estiquei os braços e atravessei ele com minhas mãos, o dividi ao meio
sem dificuldade, vi seus órgãos caindo no chão, estava com muita fome e o comi,
aos poucos aprendendo como fazer, me arrastei até as duas metades do corpo e
comecei a engolir, depois fui aprendendo a pegar com as mãos e a mastigar, com
muito esforço consegui ficar de pé, dei os primeiros passos depois de alguns
minutos.
Um
outro médico entrou, minha vontade era de fazer a mesma coisa que fiz com o
outro, mas ele trouxe um pacote com um cheiro tão bom, uma voz pelo seu rádio
perguntava se o Projeto Karine estava sobre controle, ele sorriu e respondeu
que sim, nunca tinha visto aquela expressa, fiz igual e ele me pegou no colo.
Voltei
para minha mente, minha cabeça parecia que estava pegando fogo, a menina ainda estava
no meu colo e pelo menos uns quinze agentes estavam com as armas apontadas para
nós, senti o corpo de Karine tremer e crescer, meus pés saíram do chão, ela
tinha se transformado na criatura e agora era ela que me segurava no colo.
O
mesmo médico que eu tinha visto na minha visão apareceu atrás de um dos
agentes, tinha em suas mãos uma lata com comida de cachorro, o cheiro era
forte, Karine voltou pra sua forma de menina, eu caí no chão quando isso
aconteceu, não estava preparada pra o que aconteceria a seguir, uma quantidade
enorme de disparos foram feitos, o Projeto Karine caiu no chão no meu lado
cheia de buracos, mas antes de morrer ela virou o rosto pra mim e disse “Não
salve a Adele!”, e a vida se extinguiu do seu olho.
Vomitei
algumas vezes e comecei a ter convulsões durante alguns minutos, alguns dos
agentes me pegaram e me levaram para o meu quarto, na minha cama tive a visão
de uma cova enorme no meio do deserto, dezena de corpos de meninas sendo
jogados nele e tapados pela terra, todas elas tinham um olho só.
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