sexta-feira, 26 de agosto de 2016

Projeto Adele – Estágio Um




Diário de Pesquisa – 22 de julho de 2017 – 07h30min

Nome Elizabeth Laura Mendonça Thompson

Fui contatada pelo governo para fazer parte de um projeto secreto, ultra confidencial, em um dia comum de trabalho na faculdade um Senador visitou a minha sala e me fez o convite, mas pelo jeito que ele falou era quase uma obrigação minha aceitar. Me fizeram assinar diversos papéis que basicamente diziam que se eu falasse algo para alguém minha vida teria um fim, tenho dois doutoras em Física e mais um em Engenharia Genética e ainda assim fiquei nervosa com aquela abordagem um pouco rude.


A única coisa que fui autorizada a fazer foi escrever um diário com minhas pesquisas e experiências no laboratório onde iria iniciar, mesmo ainda não sabendo o que exatamente de fato iria fazer.


A segurança parecia ser essencial para eles, agentes de terno preto me escoltaram da minha casa até o laboratório deles, durante a viagem peguei dois jatinhos e depois mais três horas de carro, nessa última parte fui vendada o tempo todo, isso me aborreceu um pouco, ainda mais que esses seguranças nem falavam e muito menos eram delicados, pareciam robôs apenas executando ordens, eu já não gostava deles.

Diário de Pesquisa – 29 de julho de 2017 – 20h15min

Depois de uma viagem cansativa finalmente chegamos ao tal lugar, estávamos em algum tipo de deserto há quilômetros de distância de qualquer civilização, entrei em uma base cercada por um alto arame com fios de alta tensão em todo sua extensão, guardas com cães ferozes andavam de um lado para o outro falando com seus rádios e escutas, única coisa que eu tinha certeza é que não era uma estação militar, mas sim particular e talvez até ilegal, só estou nessa porque o cheque que o Senador me deu como adiantamento era mais do que ganharia em dez anos de trabalho.

Assim que entrei na base fui levada até um elevador que nos desceu até o subsolo, pelo o que pude ver pelas frestas aqui embaixo era enorme, pelo menos uns dezoito andares abaixo. Quando paramos me mostraram os meus aposentos, é bem grande o meu quarto, em uma mesa se encontrava a minha janta, fui orientava a dormir e descansar, amanhã eu ia ser apresentada a toda a equipe.

Diário de Pesquisa – 30 de julho de 2017 - 06h00min

Mal consegui dormir queria muito saber o motivo de estar ali, enquanto me arrumava escutei o barulho de sirenes, as luzes se apagaram e outras vermelhas se ascenderam, no outro lado da porta pude perceber uma correria, fiquei muito nervosa me vesti rapidamente, com os barulhos de tiros e gritos tropecei na mesa e derrubei tudo no chão, os cacos de vidro cortaram a minha mão, amarei com um pano rapidamente.


Alguma coisa muito grave estava acontecendo, talvez uma invasão não sei dizer ao certo, mas não queria ficar ali escondida dentro do quarto, abri a porta devagar, assim que passei por ela uma cabeça humana veio rolando até os meus pés, congelei de pavor como uma menina no escuro, não por ter visto um corpo desmembrado, porque já tinha visto dezenas em toda a minha carreira, mas pela criatura que tinha feito aquilo.

As luzes piscavam em intervalos diferentes, tudo ficou escuro e quando as luzes vermelhas voltaram uma criatura de quase três metros de altura estava na minha frente, parecia que não tinha pele a carne era exposta, tinha apenas um olho enorme no rosto, sem boca ou nariz, apenas aquele olho cinza fixo em mim.

Perdi totalmente o controle do meu corpo, as gotas de suor frio escorriam pela minha testa sem controle, senti que esse era o momento da minha morte, as luzes se apagaram novamente e quando voltaram a criatura tinha sumido, ao invés uma pequena menina estava no seu lugar, me aproximei e pude ver que ela tinha apenas um olho, ela era a criatura.

Ela chorou com aquele olho solitário e senti uma dor terrível no meu peito, parecia ser alguma angustia, ela abriu os braços e caminhou até mim, por alguns segundos hesitei, mas a peguei no colo, me disse que seu nome era Projeto Karine, seu jeito de falar parecia de uma criança de dois anos, repetiu um monte de vezes que não queria voltar para o seu cubo.


Minha mente de alguma forma se mesclou com a dela, estava me arrastando no chão de algum lugar sentindo muita dor, um médico veio até meu encontro senti meu corpo mudar, estiquei os braços e atravessei ele com minhas mãos, o dividi ao meio sem dificuldade, vi seus órgãos caindo no chão, estava com muita fome e o comi, aos poucos aprendendo como fazer, me arrastei até as duas metades do corpo e comecei a engolir, depois fui aprendendo a pegar com as mãos e a mastigar, com muito esforço consegui ficar de pé, dei os primeiros passos depois de alguns minutos.

Um outro médico entrou, minha vontade era de fazer a mesma coisa que fiz com o outro, mas ele trouxe um pacote com um cheiro tão bom, uma voz pelo seu rádio perguntava se o Projeto Karine estava sobre controle, ele sorriu e respondeu que sim, nunca tinha visto aquela expressa, fiz igual e ele me pegou no colo.

Voltei para minha mente, minha cabeça parecia que estava pegando fogo, a menina ainda estava no meu colo e pelo menos uns quinze agentes estavam com as armas apontadas para nós, senti o corpo de Karine tremer e crescer, meus pés saíram do chão, ela tinha se transformado na criatura e agora era ela que me segurava no colo.

O mesmo médico que eu tinha visto na minha visão apareceu atrás de um dos agentes, tinha em suas mãos uma lata com comida de cachorro, o cheiro era forte, Karine voltou pra sua forma de menina, eu caí no chão quando isso aconteceu, não estava preparada pra o que aconteceria a seguir, uma quantidade enorme de disparos foram feitos, o Projeto Karine caiu no chão no meu lado cheia de buracos, mas antes de morrer ela virou o rosto pra mim e disse “Não salve a Adele!”, e a vida se extinguiu do seu olho.

Vomitei algumas vezes e comecei a ter convulsões durante alguns minutos, alguns dos agentes me pegaram e me levaram para o meu quarto, na minha cama tive a visão de uma cova enorme no meio do deserto, dezena de corpos de meninas sendo jogados nele e tapados pela terra, todas elas tinham um olho só.


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