A
carruagem vinha balançando como um navio no meio da tempestade, eu
intercalava entre momentos de alucinações e lucidez, alguém tinha me
envenenado, tenho quase certeza que fora alguém da minha família querendo
receber a herança mais cedo, a culpa de certa forma era minha, incentivei a
disputada e a trapaça como meios de conseguir a minha admiração e ter uma fatia
maior nas terras que deixaria depois da minha morte, criei serpentes e
escorpiões no meu ninho, fui duro e castiguei qualquer bondade que encontrava,
e agora estou pagando por isso.
Júlio,
meu criado, me levava para longe daqueles assassinos, para o castelo de um
conde distante, muito amigo meu, mas fazia anos que não o visitava e muito
menos ele me visitava, mandei um pombo correio avisando da minha chegada,
esperava um banquete, era o mínimo para receber alguém como eu, um Arquiduque
de tão grande nobreza, mesmo no meu estado ficaria ofendido se não encontrasse
isso.
O
que era só uma ameaça se tornou uma confirmação em segundos, uma forte
tempestade caiu sobre nós, a água entrava para dentro da minha cabine sem
hesitação, sorte que já enxergava o castelo no horizonte, as suas luzes acessam
na minha espera, comigo vomitando praticamente meus intestinos no chão da
carruagem, Júlio me levou para dentro do castelo.
Já
achei um absurdo não ter nenhum criado na entrada, nem o Conde estava na minha
espera, achei aquilo ultrajante, tive que descontar minha raiva em Júlio, mesmo
estando mal tive que dar uns tapas para ele saber o quanto estava aborrecido.
Senti uma fisgada mais forte por causa do veneno e entramos assim mesmo.
Minha
visão já estava um pouco turva, tive a impressão de ver vultos entre as colunas
da entrada, mas Júlio disse que tinha sido apenas impressão minha, odeio quando
esse criado fala baixinho e com medo de mim, criatura desprezível ele era, mas
útil para mim.
Entramos
na sua sala de apresentação, não era tão grande quanto o meu castelo, mas era
até aceitável pra mim no momento. O teto e as paredes eram brancos com pequenos
desenhos bordados em ouro em toda a extensão, algumas poltronas com almofadas
vermelhas muito delicadas foi ali que finalmente sentei, não me aguentava em pé. Júlio foi ver o porquê ninguém estava na minha espera. Fiquei ali sentado com
bastante dificuldade em respirar, qualquer outro movimento simples me causava
uma dor imensa.
Uma
criança com os olhos arregalados bastante vermelhos passou por mim me
encarando, cabelo todo falhado, chamei ele diversas vezes, mas
ele saiu porta a fora no meio da chuva. Aquele garoto tinha me dado calafrios,
mas deveria ser apenas um filho de camponês perdido, estava com medo mesmo de que
ele fosse me tocar e passar uma doença.
Já
estava ficando nervoso com a demora de Júlio, com minha bengala e bastante esforço levantei da poltrona reparei em um
quadro de uma linda mulher sentada em uma pedra, colunas gregas atrás dela e
inúmeras arvores, estava com metade do corpo despido e a parte coberta com
apenas uma manto branco quase transparente, seu rosto era triste, mas nem
reparei muito nele, seus seios fartos eram o que me chamavam mais atenção,
depois de um tempo admirando voltei a olhar o seu rosto e senti um frio na
espinha, tinha certeza que seu semblante era triste, mas agora ela irradiava um
sorriso maléfico, me afastei do quadro e distante pude ler a sua descrição.
“Sua
face triste não reflete o seu lindo corpo, única coisa que a fará sorrir é a
sua alma. ”
Não
acredito nesse tipo de coisa, mas esse quadro tinha me assustado, gritei Júlio
diversas vezes, mas nada dele responder ou aparecer, esse lugar já estava me
aborrecendo, alguma coisa aqui está muito errada.
Caminhei
até o que parecia ser a sala de jantar, a mesa era longa, cabia pelo menos
trinta pessoas de cada lado, ela estava posta e cheia de comida, diversos
talheres e pratos de prata, um grande peru no centro da mesa. Lá no fundo na
cabeceira tinha uma pessoa sentada, devagar fui até ele saber o que estava
acontecendo, quando cheguei perto era uma mulher e estava nua e muito suja,
reconheci aqueles seios mesmo com toda a sujeira, ela olhou e sorriu pra mim
com aquele mesmo sorriso maléfico, tirei forças de onde não tinha, com minha
bengala sai dali e voltei pra onde estava.
Na
sala de apresentação encontro Júlio novamente, ele estava estranho parecia
aterrorizado, perguntei do porquê da demora, ele não respondeu apenas chorou,
cheguei perto dele pra dar um tapa na sua cara, mas ele fez uma coisa que nunca
tinha feito antes, segurou a minha mão e me empurrou no chão, eu cai de costas,
aquela dor só me deixou com mais raiva, Júlio gritou alguma coisa na sua língua
nativa e depois na minha língua falou que eu deveria mesmo morrer e saiu porta
a fora, levantei com minha bengala, quando estava perto da porta as luzes de
todo o castelo apagaram, a porta se fechou e senti uma mão me segurar pela
cintura e me puxar pra escuridão.
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