A terceira grande guerra finalmente
aconteceu, e teve consequências inimagináveis, noventa por cento da população
mundial foi dizimada brutalmente pelas bombas e conflitos, mas isso não foi
tudo o que aconteceu, não sabemos se foi uma bomba ou algum experimento de
cientistas loucos, criou-se um buraco na realidade e criaturas misteriosas
invadiram nosso mundo agora indefeso e quase morto. Essas criaturas misteriosas
tinham uma fraqueza não gostavam de luz, o único problema disso tudo é que não
existia mais energia elétrica.
Nosso estoque de velas durou quase um
ano, sobraram poucas agora, tínhamos que manter a fogueira acessa durante toda
a noite, nunca dormíamos ao mesmo tempo, eu era responsável, como mais velho
dos filhos, de ficar acordado quando era o meu turno, era imprescindível essa
rotina, porque os monstros estavam à espreita, se a escuridão tomasse conta
eles atacariam ferozmente sem deixar rastros.
Já se passaram três anos que a
terceira e última guerra acabou, e a civilização parece que dessa vez não vai
se recuperar, além da destruição quase total das cidades, esses monstros
impediam o avanço humano novamente. Eu nunca vi nenhum deles, por sorte sempre
conseguimos manter a luz com nós, o mais perto que chegamos de uma vista deles,
foi com nossos falecidos vizinhos há 6 meses, escutamos apenas os barulhos
horríveis deles sendo devorados, meu pai queria ir ajuda-los, mas minha mãe
estava muito doente na época e temia pela sobrevivência de todos nós. Não
sabíamos como eram, o que eram, sabíamos apenas que eram selvagens e se
alimentavam da gente.
Hoje o dia está agitado, só sobrou
uma única vela, e alguns fósforos para acende-la. O inverno estava rigoroso, e
junto com o frio uma chuva fina constante. Toda a madeira que poderia servir
para fazer a fogueira estava úmida e dificilmente seria possível atear fogo
nela.
O dia já estava chegando no fim, e
meu pai não estava conseguindo fazer a fogueira, tínhamos então que fazer um
plano b, ficaríamos trancados em casa no escuro mesmo, e quando os monstros
chegassem ascenderíamos a vela e eles fugiriam, se tivermos sorte tudo
ocorreria bem.
A noite finalmente chegou, a tensão
entre nós era grande, esse poderia ser o fim. Des que os monstros chegaram
ninguém tinha sobrevivido aos ataques deles, se a estratégia desse certo
seríamos os primeiros.
Meu pai trancou a casa com tudo o que
tinha disponível, geladeira e fogão na porta bloqueando a passagem, fomos pro
quarto e ficamos ali na expectativa, quase duas horas se passaram e nada de
algum movimento. Minha mãe tremia dos pés à cabeça, mas mesmo assim nos segurava
forte, tão forte que estava quase nos machucando. Tenho quase certeza que ela
estava escutando o meu coração bater, porque ele estava em um ritmo super acelerado.
Depois do que pareceu uma eternidade,
eles chegaram. O barulho que faziam era horripilante, não parecia com nada que
existisse na terra, se pudesse descrever seria uma mistura de choro de bebê com
um urro de urso agonizando. Esse som parecia chegar na nossa alma e parti-la ao
meio.
Meu pai visivelmente estava assustado
também, mas mantinha a postura por todos nós. Ele pegou a vela e acendeu com o
ultimo fosforo que tínhamos. A fresta de luz que passou pela porta fez o
barulho silenciar e os movimentos cessarem.
A vela não ia aguentar a noite
inteira acessa, e não tínhamos certeza se os monstros tinham ido embora. Quando
a vela estava pela metade, meu pai resolveu verificar, precisava fazer isso,
precisava ter certeza que tinham fugido, pois a vela seria importante pro dia
seguinte.
Durante um longo tempo não escutamos
nada quando o pai nos deixou, a ansiedade estava matando a gente por dentro,
minha mãe agora chorava descontroladamente, parecia prever que o pior
aconteceria, e aconteceu. O som voltou com tudo, e agora misturado com os
gritos de dor do pai, e depois silencio absoluto novamente.
Pela nossa percepção do tempo faltava
uma hora pra amanhecer, mas a vela estava no fim, tudo na casa que poderia
pegar fogo já tinha sido utilizado, cortinas, mesas, cadeira, panos, nossas
roupas que sobraram úmidas não queimaram com a pequena chama. A chama já
oscilava, pois estava bem perto da base.
A mãe nos apertou ainda mais, pude
sentir todo o seu amor por nós, meus irmãos de olhos fechados apenas esperando
o fim. A parafina tinha chegado ao fim, o ultimo centímetro de fiapo da corda
estava queimando, minha mãe no desespero com o ultimo resquício da chama tentou
colocar fogo nela mesmo, mas também em vão.
A luz desapareceu, a vela se apagou.
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