Relatórios,
planilhas, processos e pessoas chatas, foi isso com o que eu lidei o dia
inteiro. Já estou quase no meu limite de stress, se fosse apenas o trabalho aos
montes, já seria muito, mas aguentar o mal humor dos outros era demais. Trabalhar
em escritório é muito difícil, mesma rotina, mesmas pessoas, mesmos problemas
sem solução tudo em um ciclo interminável, que está me deixando muito pra
baixo. Finalmente o dia está acabando, é o melhor ainda, é sexta-feira, preciso
muito desse final de semana, vou desligar meu cérebro e não pensar em nada,
como dizem preciso recarregar as baterias.
Para
meu ódio profundo chegou um relatório de última hora, era urgente ser feito o
mais rápido possível, faltava apenas dez minutos pro fim do expediente quando
essa bomba chegou. Onze horas da noite foi quando consegui terminar aquela
merda de relatório, estava zonza com uma baita dor de cabeça, queria matar
qualquer um que aparecesse na minha frente, e justamente o cara mais chato da
empresa tinha ficado também até mais tarde, e me encontrou na espera do
elevador, não sei mais o que de ruim poderia me acontecer hoje.
Tive
que ir com ele no elevador contando piadas sujas e sem graça, tive que me
controlar pra não enfiar a mão na cara dele, e o elevador parando em cada andar
no total de 32, era como um pesadelo. Quando chegamos na rua ele pegou seu
carro e foi embora, aquele desgraçado nem para me oferecer uma carona, eu
estava sem carro, e agora essa hora da noite tinha que esperar o último ônibus.
O
clima até pouco tempo estava seco e abafado, mas assim que cheguei na parada
começou a ventar e a temperatura caiu muito. Era apenas eu e a esperança que um
ônibus fosse passar, tentei chamar um uber, mas não tinha nenhum na região
disponível, nem taxis estavam passando, nesse momento pensei em toda minha vida
de merda, precisava muito mudar, perdida nos meus pensamentos olhando pro
horizonte notei um encapuzado na esquina.
Cruzei
os braços e me encolhi tentando parecer invisível, não consegui ver o rosto por
dentro do capuz, ele estava me dando calafrios. As luzes em volta se apagaram,
temi que o pior poderia acontecer. Ele começou a caminhar em minha direção,
depois de cinco passos ele parou e ficou me encarando, e assim continuou nesse
ritual até ficar poucos metros de mim, queria correr mais minhas pernas não me
obedeciam.
Ele
começou a circular a parada, depois de algum tempo de total pavor, percebi que
ele queria me tirar dali, fazer eu sair da parada, por algum motivo ele não
podia me atacar enquanto eu estava ali de baixo.
Ele
chegou o mais perto possível, e por baixo do capuz era uma imensidão escura,
parecia um buraco negro, não sei como definir ao certo, mas ele parecia estar
sugando minha energia, tive vontade de correr, mas se fizesse isso poderia ser
meu fim.
Uma
esperança fez meu coração se acalmar um pouco, uma leve chuva começou a cair. O
misterioso cara poderia desaparecer com esse novo evento inesperado, mas ficou
imóvel e enquanto a chuva caia encima dele as suas roupas começaram a derreter
revelando uma imensidão vazia por baixo, era como um buraco negro em forma de
pessoa.
A
chuva não estava derretendo apenas as roupas, mas também a parada estava
derretendo com a água que caia, e quando o primeiro pingo tocou o meu ombro
senti que era um ácido dos infernos, corri dali, não tinha mais o porquê ficar,
a chuva aumentou nesse exato momento, não consegui ir muito longe com meus pés
derretendo até aparecer os ossos, cai no chão com o resto da minha pele virando
uma gosma, mas esse não era o meu fim, como um verdadeiro buraco negro fui
sugada pra dentro dele e me perdi na escuridão eterna.
Nenhum comentário:
Postar um comentário