"Tornei-me insano, com longos intervalos de uma horrível sanidade" - Edgar Allan Poe

W. R. SANTHOS

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Escritor. Pintor. Cineasta Amador.

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sexta-feira, 11 de novembro de 2016

O Homem da Esquina



A festa que antes estava “bombando” ficou cada vez mais para baixo a medida que a maioria das pessoas começaram a ficar bêbadas, estive o tempo todo cuidando dos meus amigos, não tive tempo de ficar bêbado como os outros, no máximo tomei uns dois drinks para me soltar, queria muito beijar uma amiga que há muito tempo estava apaixonado, mas ela nunca notou nada, esperava que hoje finalmente aconteceria algo.


Saímos da festa lá pelas cinco da manhã, ainda estava bastante escuro e nenhum sinal do sol aparecer no horizonte, caminhamos por aquelas ruas desertas cantarolando felizes entre a rua e a calçada, Denise em meus braços esperando eu ter coragem de lhe roubar um beijo. Se fosse dia de semana já teríamos algumas pessoas em paradas de ônibus para ir para os seus serviços, mas já era domingo e nenhuma janela se encontrava aberta.


A lua já tinha sumido, o breu era quase que total, se não fosse a iluminação pública ia ser uma dificuldade para seguir caminho. Os meus amigos foram para trás de uma cerca urinar, e as outras gurias que estavam com eles foram fazer o mesmo, fiquei sozinho com Denise, criei coragem e finalmente dei o tão aguardado beijo nela, foi à coisa mais incrível que aconteceu naquela noite até o momento, ela retribui com mais vontade ainda, ali senti que ela gostava de mim, só fiquei envergonhado quando todos voltaram e começaram a bater palmas, mas minha felicidade era maior do que qualquer outra coisa.

Voltamos a caminhar, ainda faltava muito para chegar nas nossas casas, entramos numa longa rua sem cruzamentos e escura, no final dela finalmente vimos outra rua que a atravessava. Uma figura estava parada na esquina, em primeiro momento não achamos que fosse a silhueta de um homem, pensamos que fosse apenas uma ilusão de ótica, mas quando ele se mexeu vimos que não, da onde estávamos enxergávamos apenas uma figura totalmente de preto e aparentemente com um chapéu, paramos de caminhar, o medo que fosse algum tipo de ladrão ou um psicopata nos fez ficar apreensivos, Denise segurou firme a minha mão e eu tomei uma coragem que nem sabia que tinha.

Falei para avançarmos, éramos oito pessoas contra um, alguns dos meus amigos descordaram, pois temiam que ele poderia estar armado, ficamos durante um tempo sem saber o que fazer. Um dos meus amigos que ainda estava com muito álcool na cabeça decidiu ir sozinho até o encontro do homem na esquina, quis ir com ele, mas Denise pediu para ficar com ela. Marcos foi até lá meio que se desequilibrando, mas ainda sim com o peito empinada querendo parecer o machão do grupo.

De longe vi ele chegando no homem e depois de alguns segundos parado, caiu no chão, engatinhou para longe até conseguir ficar de pé novamente, correu até nós desesperadamente com os olhos arregalados, caiu novamente dessa vez sobre os meus pés, se agarrando nas minhas pernas, gritava feito louco “É o diabo! É o diabo! ”. Meu coração acelerou, não acreditava naquelas coisas, meu amigo também não, por isso tudo era tão estranho, em primeiro momento achei que fosse apenas uma pegadinha, apenas ele tentando nos zoar, mas quando percebi as lágrimas escorrendo nos seus olhos, e o desespero em sua fala, que eu nunca tinha visto antes, sabia que algo de errado estava acontecendo.

Com a cena de nosso amigo esquecemos de vigiar o homem da esquina, quando olhamos ele havia desaparecido, a tensão era grande em todos, ninguém falou palavra alguma durante um bom tempo, e ninguém sabia o que fazer. Denise segurou firme na minha mão, eu a abracei tentando demonstrar que estava segura que a protegeria de tudo. Subitamente a temperatura aumentou, começamos a suar de escorrer o suor pelo corpo, alguma coisa estava emitindo um calor fora do comum. No meu lado, no lado contrário onde eu segurava a mão da Denise, a figura do homem surgiu, corpo inteiramente preto como se fosse um borrão, um chapéu também preto enorme escondia o seu rosto. O mundo parecia ter congelado, o homem me tocou no ombro, não tive nenhuma reação, não consegui ter enquanto ele me queimava com sua mão, entrei em uma espécie de transe, mesmo sentindo dor não conseguia me mexer ou mesmo gritar, escutei e vi o desespero dos meus amigos sem ter reação como se estivessem distantes, longe do meu alcance.

Quando finalmente pude me mexer cai de joelhos no chão, o homem foi caminhando até desaparecer no horizonte, senti outra mão me puxar fortemente, era Denise que aos prantos me puxava para correr junto dos meus amigos que já estavam longe. Corremos o resto do caminho todo até não termos mais fôlego, até hoje quando nos perguntam sobre o que aconteceu naquela noite, meus amigos sempre inventam outra história, eu prefiro ficar calado porque ainda tenho aquela marca no meu ombro, e dês daquele dia nunca mais dormi tranquilo, temendo a volta daquele homem ou o quer que ele seja.


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