Aquele zumbido no meu ouvido parecia nunca querer
parar, faz mais de uma semana que isso está me incomodando demais, e afetando
meu emprego, escutei alguns colegas de outro setor cochichando Ana Paula pelos
corredores, deviam estar reclamando de mim. Vou ter que ir em um médico ver
isso o mais rápido possível antes que eu comece a enlouquecer. Em certos
momentos do dia ele é quase inaudível, mas em outros dias, tinha a
impressão que estavam construindo uma obra na minha cabeça, e uma furadeira
estava entre os meus olhos, nesses dias me trancava em casa e me enchia de
remédios.
Fui em vários médicos diferentes, mas sempre
recebia a mesma resposta, minha cabeça estava em perfeito estado, nenhum
problema era achado, nem físico e nem psicológico, isso já estava me
consumindo. Perdia diversas horas de sono me revirando na cama sem conseguir me
livrar desse zumbido maldito. Cheguei a um ponto certa vez, de pegar uma
chave de fenda e enfiar na minha orelha até o ponto de começar a sangrar, era
frequente bater minha cabeça nas portas e nas paredes para ganhar algum alívio
da agonia que me era acometida.
Em um dos dias que tive uma folga, e finalmente
consegui ter um sono tranquilo, fui despertada por um barulho estranho na
cozinha, por um momento achei que estava apenas sonhando, que era apenas um
fruto de uma mente exausta a ponto de enlouquecer.
Por via das dúvidas me levantei tateando as
paredes em ziguezague, acendi a luz ainda com os olhos fechados e quando abri
por alguns momentos achei que ainda estava dormindo. Meus eletrodomésticos
estavam todos empilhados encima da mesa, junto com cadeiras, vassouras e até o
pano do chão. Os alimentos dentro dos armários também estavam encima da mesa, e
as portas deles abertas. Nada ficou no chão ou dentro dos armários.
Por um momento não acreditei naquela cena, tive
medo que um assaltante estivesse dentro da minha casa. Fui até a sala, mas tudo
estava normal, a porta e janelas continuavam trancadas como deixei, nenhum
sinal de arrombamento ou invasão a não ser na cozinha.
O zumbido voltou com tudo, me ajoelhei de dor,
agora era como uma escavadeira dentro do meu cérebro. Minha visão ficou turva,
aos poucos fiquem desorientada e perdendo a noção de espaço. Antes de apagar
pude sentir presenças me rodeando e tocando em mim com dedos finos e gosmentos.
Meu cérebro despertou novamente, mas meu corpo
não, estava consciente e mesmo assim não conseguia me mover um centímetro
sequer. Única coisa que conseguia enxergar, depois de me esforçar para abrir os
olhos, era uma forte luz branca em minha direção. Estava deitada nua encima do
que deveria ser uma maca. Gritei apenas por pensamento, porque nenhum som saiu
da minha boca.
O zumbido voltou, mas agora tinha uma
justificativa, estavam furando minha cabeça com alguma coisa. Mesmo não podendo
me mexer, eu estava sentindo tudo, pedia para morrer enquanto as lágrimas
escorriam, foi a pior dor que já senti na minha vida. Fiquei inconsciente depois de um tempo,
voltava a acorda de tempos em tempos ainda sentindo muita dor.
Quando eles acabaram de fazer o que queriam com
minha cabeça, senti diversas mãos passando pelo meu corpo nu, dedos finos e
compridos demais para serem de uma pessoa. Em um momento que estava com náuseas
e quase vomitando, voltei a controlar o meu corpo, me virei rapidamente e caí
da maca, junto derrubei uma prateleira com diversos instrumentos cirúrgicos.
Vomitei muito no chão, saiu de dentro de mim
envolto a sangue alguma coisa que não consegui identificar, tive a impressão
que estava se mexendo, minhas forças acabaram e eu apaguei novamente. Acordei
no chão da minha sala com o sol já raiando, não parei de tremer durante uma
semana inteira, fiquei paranoica, nunca contei para ninguém o que aconteceu
comigo, e não sei se alguém acreditaria, estou me preparando para o retorno
deles, dessa vez não vão me pegar desprevenida, vou descobrir o que fizeram comigo
nem que isso custe minha vida.
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