Moramos em um terreno afastado do
vilarejo, meu pai ganhou essa terra de herança e é o único bem que possui. É um
terreno fértil e amplo, a casa ainda era pequena, mas era o suficiente para nós
quatro. Só tinha um problema, durante a noite criaturas apareciam na escuridão
da floresta tentando invadir a nossa casa e nos devorar. E essa noite promete
ser a pior delas, vi meu pai no começo da tarde pregando as janelas com
madeira, isso nunca tinha sido necessário antes, apenas a tranca bastava, minha
mãe não deixou minha irmãzinha um minuto sozinha hoje, não queria que quando
caísse à noite ela estivesse desprotegida.
Fiquei fazendo meus deveres
rotineiros, plantando as verduras e arando a terra sempre com a vigília do pai,
a cada cinco minutos ele me dava uma olhada, isso estava me deixando muito
preocupado. Cheguei uma hora nele e perguntei o que estava acontecendo mais ele
disfarçou.
Até os animais estavam se comportando
de uma maneira estranha, as galinhas, por exemplo, não saíram do galinheiro
encima de seus ovos, apenas os galos ciscavam timidamente pelo terreno. Os
bodes e as vacas pareciam agitados, assim como o rex, nosso cachorro, algo o
estava incomodando, corria de um lado para o outro e às vezes desaparecia, e
voltava ainda mais agitado.
Em uma dessas desaparecidas do rex, fui
atrás dele. Ele tinha entrado na floresta, com receio, não entrei muito fundo,
mas foi o suficiente para ver uma criatura acocada fazendo carinho nele. Não
sei bem descrever como era essa coisa, tinha um formato humano, mas passava
longe disso, sua pele era verde e com a textura igual à de um tronco de árvore,
e com aparentemente dois galhos enormes saindo de sua cabeça, ele olhou pra mim
rapidamente, tamanho foi meu susto que apenas corri de volta pra casa. Assim
que sai da floresta dei de cara com o pai, que me mandou entrar rapidamente, o
sol já estava ficando alaranjado e a noite era eminente.
Finalmente a noite chegou, todas as
janelas estavam devidamente trancadas com madeira, e o pai fez um bloqueio na
porta. Minha mãe abraçou a mim e minha irmã fortemente, enquanto o pai ficou de
pé na nossa frente. A noite agora era uma realidade, o silêncio que se
instaurou era arrepiante, até os animais não faziam barulho, talvez
inconscientemente para não atrair o que quer que seja naquela floresta.
A casa tremeu, o medo parecia um
quinto membro da nossa família, tamanha era a presença dele no olhar de cada um
de nós. O barulho do impacto de alguma coisa no chão fazia a casa inteira
sacudir como se não fosse feita de papel. A mãe começou a chorar, e meu pai
apesar do medo evidente ficou imóvel tentando entender o que estava acontecendo,
a casa parecia que a qualquer momento ia desmoronar.
Meu pai olhou para nos firmemente,
mas apesar disso, senti o medo ali dentro. A mãe apertou tão forte que quase
fiquei sem ar. O teto foi arrancado com violência, um monstro colossal mostrou
sua face, com tentáculos saindo de dentro da sua boca puxou meu pai pra cima,
urrou com um som ensurdecedor e foi embora.
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