sexta-feira, 24 de novembro de 2017

Ao Cair da Noite


Moramos em um terreno afastado do vilarejo, meu pai ganhou essa terra de herança e é o único bem que possui. É um terreno fértil e amplo, a casa ainda era pequena, mas era o suficiente para nós quatro. Só tinha um problema, durante a noite criaturas apareciam na escuridão da floresta tentando invadir a nossa casa e nos devorar. E essa noite promete ser a pior delas, vi meu pai no começo da tarde pregando as janelas com madeira, isso nunca tinha sido necessário antes, apenas a tranca bastava, minha mãe não deixou minha irmãzinha um minuto sozinha hoje, não queria que quando caísse à noite ela estivesse desprotegida.

Fiquei fazendo meus deveres rotineiros, plantando as verduras e arando a terra sempre com a vigília do pai, a cada cinco minutos ele me dava uma olhada, isso estava me deixando muito preocupado. Cheguei uma hora nele e perguntei o que estava acontecendo mais ele disfarçou.

Até os animais estavam se comportando de uma maneira estranha, as galinhas, por exemplo, não saíram do galinheiro encima de seus ovos, apenas os galos ciscavam timidamente pelo terreno. Os bodes e as vacas pareciam agitados, assim como o rex, nosso cachorro, algo o estava incomodando, corria de um lado para o outro e às vezes desaparecia, e voltava ainda mais agitado.


Em uma dessas desaparecidas do rex, fui atrás dele. Ele tinha entrado na floresta, com receio, não entrei muito fundo, mas foi o suficiente para ver uma criatura acocada fazendo carinho nele. Não sei bem descrever como era essa coisa, tinha um formato humano, mas passava longe disso, sua pele era verde e com a textura igual à de um tronco de árvore, e com aparentemente dois galhos enormes saindo de sua cabeça, ele olhou pra mim rapidamente, tamanho foi meu susto que apenas corri de volta pra casa. Assim que sai da floresta dei de cara com o pai, que me mandou entrar rapidamente, o sol já estava ficando alaranjado e a noite era eminente.

Finalmente a noite chegou, todas as janelas estavam devidamente trancadas com madeira, e o pai fez um bloqueio na porta. Minha mãe abraçou a mim e minha irmã fortemente, enquanto o pai ficou de pé na nossa frente. A noite agora era uma realidade, o silêncio que se instaurou era arrepiante, até os animais não faziam barulho, talvez inconscientemente para não atrair o que quer que seja naquela floresta.

A casa tremeu, o medo parecia um quinto membro da nossa família, tamanha era a presença dele no olhar de cada um de nós. O barulho do impacto de alguma coisa no chão fazia a casa inteira sacudir como se não fosse feita de papel. A mãe começou a chorar, e meu pai apesar do medo evidente ficou imóvel tentando entender o que estava acontecendo, a casa parecia que a qualquer momento ia desmoronar.


Meu pai olhou para nos firmemente, mas apesar disso, senti o medo ali dentro. A mãe apertou tão forte que quase fiquei sem ar. O teto foi arrancado com violência, um monstro colossal mostrou sua face, com tentáculos saindo de dentro da sua boca puxou meu pai pra cima, urrou com um som ensurdecedor e foi embora.




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