A chuva tinha iniciado de repente,
sem anúncios ou apresentações. Rita tinha olhado os telejornais durante o dia
inteiro e nada de chuva nas previsões, cada gota que batia na janela de seu
quarto fazia um barulho estranho, parecia alguém dando pequenos toques no
vidro. A madrugada estava chegando com força, mas ela não queria de maneira
nenhuma dormir, tinha pesadelos constantemente com pessoas morrendo, e para seu
espanto certas mortes aconteciam realmente como nos seus sonhos. Não queria
acreditar que isso de premonição era real, mas ela sabia que era.
Um desses pesadelos a deixou
traumatizada, ano passado sonhou com sua filha morrendo em chamas, no dia
seguinte sua filha e seu marido morreram em um acidente de carro, ambos foram
carbonizados presos dentro do automóvel. Teve que se internar em uma clínica
para não morrer de depressão, uma das forças que a fez resistir foi seu filho
de sete anos que precisava dela, mesmo depois do ocorrido, ter ido morar com a
avó.
A maioria dos seus sonhos eram com
pessoas desconhecidas em lugares que ela nem conhecia, o que ela temia era
sonhar com outro familiar, isso a fez ficar viciada em remédios para não
dormir, conseguiu se acostumar a dormir dia sim e dia não, mesmo isso fazendo
um efeito muito negativo na sua vida.
A chuva aumentou gradativamente, já
fazia dois dias que ela não dormia, estava sozinha em casa e o sono estava
vindo com força. Levantou do sofá onde estava, pois a televisão já não estava
dando conta, foi até a cozinha e tomou um copo de energético e mais dois
remédios, mesmo assim estava sonolenta e com a visão turva.
Ela estava dirigindo seu carro para
ir trabalhar, o clima já estava bom, a chuva que era constante havia
desaparecido, o sol da manhã reinava brilhoso no céu, toda a agonia, o medo, a
sensação de pavor em cada minuto havia desaparecido. Ajeitou o cinto, mexeu no
espelho, ligou o carro, estava pronta pra sair, um fio de esperança era única
coisa que via no momento. Pisou no acelerador e sentiu o impacto, logo depois o
segundo. A roda da frente e traseira tinham passado encima de alguma coisa. Ela
desce do carro e encontra seu filho com a cabeça estourada.
Rita acorda, já era de manhã, sua
roupa molhada de suor, estava no chão da cozinha, tinha apagado ali mesmo, não
conseguiu impedir mais um sonho de morte, depois da sua filha, agora era seu
filho. Ela levanta do chão com dores no corpo todo, nem teve tempo de se
recuperar a campainha toca.
Rita abre a porta e era o seu filho,
o desespero toma conta dela, o pesadelo ainda estava muito nítido na sua
cabeça, precisava de qualquer maneira afastar ele, dessa vez ela achava que
poderia impedir a visão.
Grita com ele, pede para ir embora o
mais rápido possível, ele não entende e tenta resistir. Rita então vê que o
único jeito de afastá-lo é sendo cruel, ela grita que a única que amava era sua
irmã, que ele não passava de um estorvo em sua vida, e nunca mais queria ver
ele. O garoto então vai embora chorando.
Rita com o coração partido o olha
indo embora pela janela, o garoto distraído não olha quando atravessa a rua,
tropeça no paralelepípedo caindo na rua, um carro em alta velocidade passa por
cima de sua cabeça.
Ela fica ainda um longo tempo na
janela catatônica, seu coração parecia que tinha parado de bater, os
pensamentos tinham sumido da sua mente, a dor e sofrimento tinham tomado conta
de tudo. Rita caminha como se apenas fosse levada por alguma força externa,
chega até a cozinha pega uma faca, sem piscar ou hesitar passa a lâmina no
pescoço, o sangue escorre pelo corpo, assim que a faca cai no chão uma criatura
que estava escondida nas sombras se revela, segura o pescoço de Rita não
deixando mais o sangue escorrer.
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