sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

A Mulher Que Sonhava Com A Morte


A chuva tinha iniciado de repente, sem anúncios ou apresentações. Rita tinha olhado os telejornais durante o dia inteiro e nada de chuva nas previsões, cada gota que batia na janela de seu quarto fazia um barulho estranho, parecia alguém dando pequenos toques no vidro. A madrugada estava chegando com força, mas ela não queria de maneira nenhuma dormir, tinha pesadelos constantemente com pessoas morrendo, e para seu espanto certas mortes aconteciam realmente como nos seus sonhos. Não queria acreditar que isso de premonição era real, mas ela sabia que era.

Um desses pesadelos a deixou traumatizada, ano passado sonhou com sua filha morrendo em chamas, no dia seguinte sua filha e seu marido morreram em um acidente de carro, ambos foram carbonizados presos dentro do automóvel. Teve que se internar em uma clínica para não morrer de depressão, uma das forças que a fez resistir foi seu filho de sete anos que precisava dela, mesmo depois do ocorrido, ter ido morar com a avó.


A maioria dos seus sonhos eram com pessoas desconhecidas em lugares que ela nem conhecia, o que ela temia era sonhar com outro familiar, isso a fez ficar viciada em remédios para não dormir, conseguiu se acostumar a dormir dia sim e dia não, mesmo isso fazendo um efeito muito negativo na sua vida.

A chuva aumentou gradativamente, já fazia dois dias que ela não dormia, estava sozinha em casa e o sono estava vindo com força. Levantou do sofá onde estava, pois a televisão já não estava dando conta, foi até a cozinha e tomou um copo de energético e mais dois remédios, mesmo assim estava sonolenta e com a visão turva.

Ela estava dirigindo seu carro para ir trabalhar, o clima já estava bom, a chuva que era constante havia desaparecido, o sol da manhã reinava brilhoso no céu, toda a agonia, o medo, a sensação de pavor em cada minuto havia desaparecido. Ajeitou o cinto, mexeu no espelho, ligou o carro, estava pronta pra sair, um fio de esperança era única coisa que via no momento. Pisou no acelerador e sentiu o impacto, logo depois o segundo. A roda da frente e traseira tinham passado encima de alguma coisa. Ela desce do carro e encontra seu filho com a cabeça estourada.

Rita acorda, já era de manhã, sua roupa molhada de suor, estava no chão da cozinha, tinha apagado ali mesmo, não conseguiu impedir mais um sonho de morte, depois da sua filha, agora era seu filho. Ela levanta do chão com dores no corpo todo, nem teve tempo de se recuperar a campainha toca.

Rita abre a porta e era o seu filho, o desespero toma conta dela, o pesadelo ainda estava muito nítido na sua cabeça, precisava de qualquer maneira afastar ele, dessa vez ela achava que poderia impedir a visão.

Grita com ele, pede para ir embora o mais rápido possível, ele não entende e tenta resistir. Rita então vê que o único jeito de afastá-lo é sendo cruel, ela grita que a única que amava era sua irmã, que ele não passava de um estorvo em sua vida, e nunca mais queria ver ele. O garoto então vai embora chorando.


Rita com o coração partido o olha indo embora pela janela, o garoto distraído não olha quando atravessa a rua, tropeça no paralelepípedo caindo na rua, um carro em alta velocidade passa por cima de sua cabeça.

Ela fica ainda um longo tempo na janela catatônica, seu coração parecia que tinha parado de bater, os pensamentos tinham sumido da sua mente, a dor e sofrimento tinham tomado conta de tudo. Rita caminha como se apenas fosse levada por alguma força externa, chega até a cozinha pega uma faca, sem piscar ou hesitar passa a lâmina no pescoço, o sangue escorre pelo corpo, assim que a faca cai no chão uma criatura que estava escondida nas sombras se revela, segura o pescoço de Rita não deixando mais o sangue escorrer.


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