O
navio seguia em alta velocidade por entre as ondas selvagens daquele mar
revolto e perigoso, a cada pancada no casco que tomava pela agua um dos
marinheiros pulava pra fora com violência, o céu estava em um cinza tão escuro
que quase estava se tornando preto, de longe as ondas mais pareciam paredes em
movimento. O pavor era total, gritos e mais gritos que não eram escutados por
causa dos barulhos do mar e os trovões que de vez enquanto caíam na cabeça de
alguma pessoa e a transformava em um corpo sem vida queimando por dentro, o
capitão estava dentro da sua cabine tremendo de medo pressentia a morte de
todos ali, sabia muito bem que aquele navio não aquentaria mais e afundaria a
qualquer momento, todo o seu luxo e poder não serviam pra nada nesse momento,
se sentia impotente e miserável com a situação que se desenrolou.
Karine
observava tudo aquilo passiva na parte superior do convés, cada mínimo detalhe
estava sendo registrado, oficiais pomposos em desespero caindo na agua morrendo
afogados ou sendo atingidos por raios, os escravos acorrentados sendo jogados
de um lado pro outro sem conseguir se soltarem, alguns acorrentados com irmãos
já mortos. Karine percebeu que alguns deles, os que conseguiram se manter vivos
e dentro do navio, se ajoelharam em meio a chuva pesada que caia na sua
direção, pareciam que estavam rezando na direção dela, foi quando percebeu que
não era pra estar ali, o vento não a empurrava pra longe, o balanço do navio
não a incomodava e a chuva não a tocava, estava ali mais ao mesmo tempo não
estava. De longe viu um tornado vindo em direção deles, esse era o fim pra
todos ali, escravos, oficiais, não importava mais, todos teriam o mesmo
destino, mas algo ainda mais assustador estava pra acontecer o tornado tinha um
rosto, um rosto cruel vindo em direção deles, abriu aboca e engoliu o navio,
Karine pode sentir a dor de cada um antes de sua mente apagar.
Karine
acordou em uma cama estranha em um quarto estranho, sua mente estava muito
confusa, as imagens que aparentemente eram um sonho ainda estavam fortes,
demorou alguns minutos pra ela distinguir o que era real e o que não era, ainda
assim estava bastante assustada, tremia muito enquanto tentava se levantar da
cama, não fazia ideia de quanto tempo estava ali nem como tinha chegado naquele
quarto. Escutou alguns passos vindo em sua direção, seu coração disparou,
procurou alguma coisa pra se defender, mas não encontrou nada, então foi pro
chão e se escondeu embaixo da cama, a porta foi aberta, ali de baixo ela pode
ver os pés caminhando de um lado para o outro a procurando, estava ofegante por
causa da tensão, mas respirava o mais silencioso possível, seu peito doía de
tanto medo que estava, viu os pés saírem do quarto então pode finalmente sair de
baixo da cama, esperou mais alguns minutos botou o seu tênis e saiu do quarto.
Andou
por um corredor reto e pra sua surpresa saiu dentro de uma igreja, um padre
sentado no banco parecia que a estava esperando, Karine finalmente se acalmou
afinal estava na casa do Senhor, o que de mal podia lhe acontecer, e tinha se
lembrado o porque estava ali, mas ainda era um mistério de porque estava
desacordada no quarto.
-
Bênção, padre!
-
Deus te abençoe, minha filha! – Karine senta no seu lado. – Acredito que esteja
se perguntando como veio parar aqui!
-
Sim senhor, minha mente está confusa, não lembro como cheguei aqui ou porque
estou aqui.
-
Te encontrei no lado de fora da igreja desacordada, ,parecia estar tendo algum
tipo de pesadelo muito real Karine, como não tenho o telefone dos seus pais lhe
deitei na minha cama enquanto atendia alguns fiéis.
-
O senhor acredita em reencarnação? Eu sei que isso pode ir contra a sua crença,
mas eu tô com duvidas e não só com isso acho que sou amaldiçoada, muitas coisas
estranhas vem acontecendo comigo.
-
Eu realmente senti algo quando te peguei no chão, minha filha esteve aqui, mas
não pode lhe ajudar.
-
Sua filha?
-
Entendo o espanto, nem sempre eu fui um padre, antes de seguir essa vocação eu
tive uma família e uma vida diferente. – ele falou com uma tristeza no olhar. –
Mas isso é passado vamos focar em você. O que realmente lhe aflige?
-
Tem alguma coisa de errado comigo, não sei explicar direito é alguma coisa fora
do normal, tenho pesadelos muito reais como se eu realmente estivesse lá, e eu
sinto que realmente estou. Algo grande vai acontecer padre, eu sinto isso, um
mal muito grande está por vir e vai consumir tudo e todos.
Karine
saiu da igreja com a sensação que o padre sabia mais do que lhe tinha contado,
mexeu no seu bolso e encontrou o folheto do circo, pensou que se conseguisse um
tempo no final de semana iria visita-lo. Chegou em casa e seus pais não
estavam, entrou em seu quarto abriu a janela e deitou na sua cama, ficou
olhando pro céu, ainda estava cansada e as vezes dava uma piscada sonolenta,
foi em uma dessas que teve a impressão de ter visto um homem alado voando entre
as nuvens, se levantou rapidamente e quase caiu da janela tentando enxergar
melhor, mas não viu mais nada, talvez tivesse sido apenas o seu cansaço fazendo
efeito, deitou novamente na cama e depois de alguns minutos adormeceu.
Escuto
pequenos barulhos pertos da porta, mas não deu bola pensava que fosse os seus
pais chegando, os barulhos continuaram, pequenos passos que foram aumentando
gradativamente, ela abriu um dos olhos e viu dezenas de insetos passando por
baixo da porta, dezenas viraram milhares o quarto ficou completamente tomado,
Karine ficou encima da cama apavorada, formigas, aranhas, e qualquer outro tipo
de inseto rastejante cobriram o chão formando um tapete.
Uma
formiga do tamanho de um celular tenta subir encima da cama, ela tenta
chuta-la, o bicho tinha pressas enormes que morderam o seu dedo, pela dor
Karine sabia que não estava sonhando, alguns dos insetos menores conseguem
subir na cama, outros maiores começam a balançar a cama tentando faze-la sair
de cima, Karine se desespera quando os insetos pequenos começam a subir na
cama, a porta é aberta abruptamente pelo vento forte, ela pula da cama e corre
porta a fora com alguns insetos ainda nos seus pés grudados. Corre pela rua
meio sem rumo ainda assustada com o que tinha acontecido, sem prestar atenção
nas coisas em sua volta tropeça em um anão que lhe faz uma cara feia, quando
levanta estava na entrada do circo.
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