"Tornei-me insano, com longos intervalos de uma horrível sanidade" - Edgar Allan Poe

W. R. SANTHOS

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Escritor. Pintor. Cineasta Amador.

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sexta-feira, 11 de maio de 2018

Um Conto Sobre Acreditar - Parte 1



Nanda estava terminando de limpar a casa, não notou que quando estava finalizando a dura faxina, a noite havia chegado, estava exausta, caiu no sofá para recuperar um pouco das forças, a casa não era muito grande, mas estava para ser limpa há semanas, e como Nanda era novata em morar sozinha foi um pouco difícil fazer tudo. Fazia um mês que estava sozinha na capital, e se sentia solitária, deixou sua amada mãe no interior para tentar ingressar em uma boa faculdade e tentar dar uma vida melhor para ela que já não aquentava mais a vida no interior, o dinheiro era curto e o trabalho era longo, mas Nanda nunca reclamou queria apenas que sua mãe tivesse uma velhice melhor.

Finalmente a casa, que era alugada, estava limpa, mas ainda não era o fim das tarefas a geladeira estava totalmente vazia, o seu dinheiro do mês era pouco não daria para comprar muita coisa só o essencial como feijão, arroz e um pouco de carne. A capital era bem diferente de sua cidadezinha do interior, cheia de carros, pessoas com pressa e sem educação, prédios altos e apavorantes, já tinha visto tudo isso pela televisão, mas estar realmente ali pela primeira vez era assustador para ela, e sua timidez não ajudava nem um pouco, conhecia apenas uma pessoa, o senhor que alugou a pequena casa, era um antigo amigo de sua mãe. Nanda se apressa e sai de casa para o supermercado.


- Oi menina! Já faz um tempo que te vejo passando por aqui, se mudou para o bairro? – O dono da banca de jornal abordou Nanda quando ela parou na frente olhando uma revista.

- Oi, sim senhor, me mudei no começo do mês. – ela respondeu timidamente.

- Sou Horácio, muito prazer, qual a sua graça?
- Nanda.

- Belo nome.

- Obrigado.

- Minha filha se chama Amanda, bem parecido.

- Verdade! Foi minha mãe que escolheu.

-Diga-me Nanda está sozinha na cidade?

- Sim, vim me matricular na faculdade daqui.

- Que maravilha! Minha filha estuda lá, vou te apresentar ela um dia desses tomara que se tornei amigas.

- Que bom eu também gostaria. Desculpe, mas eu tenho que ir ao supermercado e já está ficando tarde.

- Vá logo então querida, moças decentes não ficam na rua até tarde.

- Sim, com certeza.

- Além do mais a noite é sempre perigosa, antes tome esse folheto da igreja onde eu falo algumas palavras do Senhor.

- Eu não frequento igrejas, não acredito muito nelas.

- Que pecado querida, não faça isso consigo mesma, leve o folheto assim mesmo.

- Ok! Tchau até outro dia.

- Tchau querida.


Nanda seguiu o seu caminho até o supermercado, fez suas compras e voltou pra casa, a banca de jornal já tinha fechado. As poucas coisas que comprou deveriam durar o mês todo, ainda não tinha conseguido um emprego, mas na segunda-feira iria atrás de um novamente, precisava de qualquer um até mesmo um estágio, o dinheiro que sua mãe havia juntado no banco não iria durar pra sempre.

Já tinha passado das dez horas da noite quando Nanda deitou na sua cama e ligou o rádio pra escutar alguma musica, já que não tinha televisão, escutou diversas musicas até finalmente adormecer, não demorou muito e abriu os olhos novamente, escutou pequenos barulhos no seu telhado achou que era chuva e voltou a fechar os olhos,  reabriu minutos depois com um salto da cama assustada, alguma coisa pesada tinha caído nos fundos da casa onde ficava a garagem do dono.

Nanda olha pela janela e nota que alguma coisa tinha caído lá dentro, seu coração estava acelerado, pega a vassoura e abre a porta dos fundos caminha lentamente até lá. Havia um buraco no teto e não tinha caído uma gota de chuva como tinha pensado, a única coisa que encontrou no chão foram algumas penas brancas, puxa a alavanca pra porta da garagem levantar, o carro não estava lá, pois o dono da casa estava viajando, estava muito escuro, na entrada procurando a tomada pra ligar a luz, mas não achou, antes que desse um passo pra frente escuta um gemido baixo, se apavora quando foi recuar uma mão segura o seu pé, apavorada ela cai no chão, um homem pula encima dela, seus olhos eram tão azuis quanto o oceano, um pedaço de telhado cai na sua cabeça e ela desmaia.


- Ai! Ai! Minha cabeça! – quando Nanda acordou já estava dentro de casa novamente deitada na sua cama, por um momento achou que poderia ter sido apenas um sonho ruim, mas quando escutou barulhos na cozinha sabia que não estava sozinha. Levanta com todo o cuidado tentando não fazer barulho, escutou as panelas encima do fogão, se aproximou se arrastando pela parede, pegou um livro que estava no chão para tentar atirar na pessoa, mas quando estava a um passo da cozinha escutou uma voz que mais parecia um assobio.

- Eu sei que você está ai, não vou te machucar, venha vou fazer um chá, eu acho que sei fazer.

- Quem é você? Porque está dentro da minha casa?

- Eu preciso da sua ajuda. – a voz ficou mais suave, como se tivesse mudando a tonalidade. – Eu nunca falei com um humano antes, não sei qual tom de voz falar.

- Como assim?

- Venha, por favor! Mas não se assuste com minha aparência.
Nanda deu um passo receosa, tremia da cabeça aos pés, as asas saiam das costas do homem em pé na frente do fogão, estava sem camisa e com apenas um pano na sua cintura.

- Quem é você?

- Gostei!

- Do que? – Nanda estava muito confusa.

- De perguntar quem eu sou, e não o que eu sou agradeço a sensibilidade.

- Você ainda não respondeu.

- Anjo, mas acho que você quando me viu já sabia disso, não é? Você está em perigo Nanda, a mesma criatura que me atacou está vindo te buscar, e é meu dever te proteger.

- Mas..., mas por quê? O que eu fiz?

- Essa criatura precisa da tua alma, tenho que te protegido até hoje, agora ele vai te atacar diretamente, precisamos sobreviver até o amanhecer, ele só tem essa noite se não conseguir vai voltar para o buraco da onde nunca deveria ter saído.



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