O
formigueiro foi se distanciando enquanto a formiguinha apenas observava, depois
do ataque de um animal de língua comprida, ela perdeu duas patas laterais da
esquerda, mal conseguia caminhar, trabalhar então, era impossível. Decidiu por
conta própria abandonar o formigueiro para não ser um fardo. Ela que era o
orgulho do formigueiro, que amava ser formiga, agora era descartável e sem
propósito.
A chuva
logo veio e sem ninguém pra ajudá-la foi levada pela água e pelo vento, sem
forças para se proteger, decidiu que já era a hora de sua vida acabar. Antes de
perder a consciência viu uma mancha azul.
Acordou
e estava em um lugar diferente, diferente de tudo que já tinha visto antes. Um
jardim verde com diversos pontos azuis flutuando de um lado para o outro.
-
Finalmente acordou, já estava ficando preocupada! – demorou pra formiguinha
perceber, pois de perto ela tinha o rosto parecido com o dela, mas quando se
afastou um pouco viu suas grandes asas azuis.
- Onde
estou? Quem é você?
- Você
foi escolhido para entrar no Jardim do Raio Azul!
- O
que? Eu não deveria estar aqui.
- Não
se preocupa aqui você não é uma prisioneira, tem a liberdade de ir onde quiser.
- Quero
ir embora então! - A formiga se levantou da cama forrada de algodão onde
estava, mas mal conseguia caminhar sem suas patinhas. – Acho que posso ficar
mais um pouco deitada.
- Está
vendo aqueles dois pedacinhos de graveto ali? – e apontou pro lado da cama. –
Foram feitas pra você! Coloque-as, por favor, e vamos dar uma volta.
Depois
de relutar um pouco ela colocou as “próteses”, e as duas foram caminhar pelo
jardim.
- A
vida é um eterno ciclo, tudo é finito, as coisas vem e vão e você tem que
aproveitar enquanto as tem, mas quando acaba você tem que deixar ir, não pode
ficar presa a isso.
- Quero
só me recuperar e voltar ao meu formigueiro.
Eles
andaram por toda a extensão do jardim, passaram por diversos outros animais,
todos com algum tipo de problema sendo ajudados por alguma borboleta.
- O que
vocês são na verdade?
- Você
tem uma escolha formiguinha, ou volta pra onde estava ficando eternamente no
ponto em que terminou, ou se esforça um pouco e se transforma em outra coisa,
mas essa escolha tem uma validade.
-
Quando eu terei que decidir?
- Você
saberá quando! Vamos continuar a caminhar.
Depois
de um longo tempo caminhando pelo jardim, que parecia nunca acabar, eles
encontraram outra formiga.
- Que
bom! Outra formiga.
Eles conversaram
e essa outra formiga contou que foi pisada por algo e queria voltar pro seu
formigueiro. A borboleta então explicou tudo, e ela então resolveu ficar.
- Eu
posso fazer a mesma coisa que você fez com essa formiga?
- Claro
que pode é só querer.
- Então
é isso que eu quero.
- Você
só precisa agora encontrar com o Raio azul!
- Como?
- Venha
comigo.
Eles caminharam
até o lugar mais distante do jardim, até ficarem mais longe no horizonte. Um raio
azul caiu do chão encima da formiga, um casulo cresceu em sua volta, ela
hibernou durante um tempo, quando acordou não era mais uma formiga, era agora
uma borboleta azul.
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