Os
Mortos Não Saem das Covas
Conto baseado em fatos reais, nomes e
locais alterados para preservação dos envolvidos.
Rogério estava há quase um ano sem
conseguir um emprego fixo, não conseguia segurar um emprego por mais de dois
meses, a crise no país estava alta, e ele estava sendo afetado diretamente, suas
contas a cada dia estavam se acumulando e os juros aumentando, tinha que pagar
pensão pra sua filha de quatro anos, o resto do dinheiro que tinha mal dava pra
passar o mês, ele já estava desesperado quando encontrou uma vaga de emprego em
um cemitério afastado da cidade.
Acordou cedo no dia seguinte, fez a
barba pegou sua melhor roupa, imprimiu seu currículo e saiu de casa às 5 da
manhã, queria ser o primeiro a chegar pra conseguir a vaga. Apesar de ter que
dormir no cemitério algumas noites o salário era muito bom, mais alto que
qualquer outro que já tinha ganhado na vida, Rogério era de uma família
humilde, até tentou, mas não conseguiu terminar os estudos com isso nunca
conseguiu um emprego com alta remuneração.
Rogério conseguiu ser o primeiro a
chegar, mas logo estranhou nenhum outro candidato apareceu o tempo passou e ele
era o único candidato, estava surpreso, mas também feliz, o salário era muito
bom pra ser verdade e ele realmente necessitava. Um velho com uma bengala veio
ao seu encontro enquanto ele esperava no lado de fora do grande portão.
- Tem certeza que você quer o
emprego? – o velho falou com uma voz arrastada e desanimada.
- Sim claro, aqui está o meu
currículo, tenho experiência com segurança. – Rogério estava nervoso pra
conseguir o emprego.
- Não quero saber, apareça aqui
amanhã pra começar os turnos. – falou ainda mais desanimado.
- Muito obrigado mesmo. – Rogério nem
tinha terminado a frase e o velho já tinha lhe dado às costas, ele o observou
até desaparecer entre as lápides.
Rogério foi pra casa muito animado,
poderia finalmente depois de um longo tempo dormir em paz. No dia seguinte
acordou tão cedo quanto o dia anterior, caia uma chuva fina na cidade, mas isso
não impedia que as paradas estivessem lotadas, esperando seu ônibus e
preocupado com o horário ele nem percebeu a aproximação de uma velha bem
judiada pela vida e com roupas bem surradas e rasgadas.
- Filho, sabe se o T4 passa aqui? – a
velha quase que sussurrou.
- Não senhora, esse não passa aqui.
- Os mortos não saem das covas filho.
– falou e foi se afastando, Rogério nem teve tempo de reagir, pois seu ônibus
tinha acabado de chegar, de dentro do ônibus viu a velha do lado de fora o
observando pela janela.
Ao chegar no cemitério encontrou o
portão aberto, bateu palmas e logo viu o velho vindo em sua direção.
- Desculpa nem perguntei o nome do
senhor. – Rogério falou quando se aproximou.
- Juvenal, entre de uma vez tenho
mais coisas pra fazer.
O cemitério mesmo durante o dia era
bem sinistro, Rogério nunca tinha entrado nesse e sentiu calafrios assim que
pisou lá dentro, eles caminharam por toda a extensão, o pequeno casebre era do
lado oposto da entrada, tinham que atravessar praticamente todo o local,
algumas covas estavam abertas com seus caixões pra fora, o que deixou Rogério
curioso.
- Por que essas covas estão abertas?
- Eu estou ficando velho, já vi muita
coisa durante muitos anos, não me assusto mais com nada, mas não tenho mais a
vitalidade de lidar com ladrões ou tarados por corpos frescos.
- Que coisa terrível.
O pequeno casebre onde ele deveria
ficar tinha apenas um cômodo com apenas uma cama de solteiro e uma cadeira com
uma mesinha e a lareira. Eles andaram mais um pouco pelo cemitério, Juvenal
mostrou praticamente todas as lápides pra ele e tudo o que ele deveria fazer.
As
primeiras noites foram tranquilas nenhuma atividade fora do comum, apesar da
quantidade excessiva de corvos que ele tinha notado tudo ocorreu extremamente
bem, até se permitiu conferir algumas lápides e ver se reconhecia alguém, a
noite já tinha chegado novamente e Rogério deveria voltar pro casebre e acender
as luzes, mas alguma coisa estava errada, as luzes já estavam acessas, ele
tinha certeza que não tinha acendido, entrou dentro do casebre bem devagar
calculando qualquer movimento, assim que passou pela porta viu uma grande
quantidade de terra na entrada e também em várias partes do casebre, estavam
espalhados como se fossem pegadas.
Rogério ficou um pouco assustado,
pegou sua lanterna e saiu do casebre olhando em volta, na arvore mais próxima
dezenas de corvos estavam parados nos galhos olhando diretamente pra ele.
Rogério cai no chão de sustos quando todos aqueles corvos bateram assas ao
mesmo tempo e levantaram voo, ele levanta rapidamente e corre atrás dos corvos
que pousam em uma lápide aberta.
O caixão tinha sido quebrado e o
corpo que deveria estar ali dentro havia desaparecido, a cova era nova tinha no
máximo duas semanas, era de Nina Kulagina, mas sua atenção foi desviada
novamente com o barulho de vidro quebrado, ele correu novamente até o casebre e
de longe viu que alguém estava lá dentro, os corvos começaram a fazer barulho
alto como se alguma coisa estivesse os incomodando, Rogério ficou temeroso em
se aproximar, quando estava há alguns metros do casebre a pessoa que estava ali,
sai pela porta.
Uma mulher toda coberta de terra
ficou o olhando nos olhos, alguns vermes saiam de sua boca e também dos olhos,
ele dá alguns passos pra trás seu coração estava disparado e suas pernas
bambas, não sabia bem o que tinha que fazer. A mulher então estica os braços e
lhe chama pelo nome, Rogério corre desesperado pro portão, no caminho ele vê
outras covas com mãos saindo de dentro da terra.
Rogério abandonou aquele emprego na
mesma noite do ocorrido, agora ele trabalha como segurança de farmácias, ele
nunca mais voltou naquele cemitério, soube anos depois que o cemitério havia
sido fechado pelo sumiço de vários corpos.
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