terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Andressa Amberg – Investigadora Paranormal



A garrafa de vodka já estava no fim, o cigarro já tinha acabado, aquelas ruas vazias e escuras pediam pra alguma coisa anormal acontecer. Andressa coloca a sua jaqueta, molha um pouco seus cabelos longos e negros, mas quando está prestes a sair seu telefone toca.

- Alô! Eu poderia falar com Dona Amberg?

- Diga o assunto que eu passo pra ela. – Andressa fingindo ser uma secretária.

- É pessoal o assunto. – a mulher do outro lado da linha parecia aflita.

- Moça é assim que funciona, a Amberg nunca fala pelo telefone, fale o que quer ou desligue.

- Como você é educada heim?

- Idem.

- Tudo bem, meu nome é Larissa Goulart, eu acho que tem um lobisomem na minha fazenda, preciso saber se isso é realmente possível.

- Lobisomem 30 mil.

- Eu não posso paga isso.

- Quanto então?

- Dez mil.

- Feito.

- Feito?


- Passa o endereço de uma vez.

A viagem até aquela fazenda no dia seguinte foi longa e chata, o que deixou Andressa ainda mais aborrecida, como precisava urgentemente de dinheiro foi fazer o seu serviço mesmo assim junto com sua mala com diversos aparelhos misteriosos. Assim que chegou à cidade descobriu que tinha que ir de carroça por mais duas horas até chegar à fazenda, entrou em um bar e pediu uma dose de cachaça e um maço de cigarro, tomou outras cinco doses antes de ir ao banheiro. Andressa tira um pó branco dentro de um saquinho de plástico do seu bolso, pega com os dedos e aspira aquele pó.

Aquela carroça fedida e velha balançava feito um liquidificador naquela estrada de chão batido, e isso não era o que mais a incomodava no momento, dividida com outras pessoas que moravam ali, roupas surradas e mais fedidas que a carroça.

- O que tu tá olhando? – Andressa estava incomodada pelos olhares.

- A moça não é daqui né?

- Claro que sou não tá vendo meu bafo de cachaça, só é um pouco menos fedido que o teu.

- Acho que a moça não deveria ir pra lá, tem um lobisomem naquela fazenda.

- Espero que tenha mesmo, ele é meu ganha pão.

Várias outras pessoas tentaram puxar assunto com ela, querendo saber quem era ou o porquê estava indo pra lá, mas ignorou totalmente. Aquela poeira parecia estar entrando dentro dela, estava a um passo de bater em alguém quando finalmente chegaram.


A primeira visão que teve quando chegou foi bem bizarra, doze estacas fincadas no chão no lado da entrada com carcaças de bois nas pontas, o cheiro era ainda pior que a cena, ela quase estava arrependida de ter aceitado o trabalho, a última vez que tinha encontrado um lobisomem as coisas não saíram tão bem, mas a falta de grana era um fator determinante, comer miojo e tomar vodka todo dia já não estava dando certo, a vida estava cada vez mais cara, e achar um trabalho sobrenatural remunerado era raro, ainda mais que quase sempre alguma morte estava envolvida, conseguir ficar anônima pra polícia mesmo fazendo o bem não era uma coisa fácil e custava muito, se ao menos alguma vez acreditassem nela pra variar, era taxada como louca ou até mesmo aproveitadora.

A fazenda era enorme impossível ver o final dela a olho nu, tinha tanto gado que poderia dizer que eram centenas, a casa também era enorme parecia antiga, mas bem conservada, assim que bateu na porta uma empregada abriu e a convidou pra entrar.

- Voltamos ao Brasil colônia?

- Desculpe senhora, o que?

- Senhorita pra você.

- A senhorita é Andressa Amberg?

- Infelizmente pra nós duas sou.

- Venha por aqui, por favor!

- Porque não?

A casa por dentro parecia mais moderna que do lado de fora, mesmo assim o ar antigo era predominante, Andressa largou a bolsa no chão e seguiu a empregada, prestando atenção em cada detalhe da casa, sua visão era boa tanto quanto sua audição, analisou cada canto querendo perceber alguma coisa fora do comum. Chegou à segunda sala onde um casal estava sentado no sofá tomando chá com bolacha.


- Graças a deus você chegou, já estava preocupada, achei que não viria mais. – a mulher estava usando um vestido longo com os braços de fora, braços esses que estavam muito arranhados.

- Também pensei a mesma coisa.

- Esse é meu marido Eduardo, por favor, sente-se, quer um pouco de chá?

- Eca não, por favor alguma coisa com álcool empregada.

- Meu nome é Beatriz. – falou irritada.

- Tanto faz.

- Pode trazer Beatriz. – Larissa falou quando Beatriz a fez um olhar indignada.

- Bem vamos falar do que importa a grana, o faz me rir, a bufunfa, cadê o dinheiro?

- O mais importante é acabarmos com essa criatura que esta amedrontando nossa fazenda. – Eduardo falou um pouco indignado.

- Pra ti né! – Andressa falo com um risinho debochado.

- Quem você pensa que é?

- A deusa da destruição, a cavalheira da noite, a salvadora dos pecadores, ou apenas uma alcoólatra. – Andressa agora estava se divertindo.

- Eu quero que ela vá embora agora, essa louca não pode nos ajudar. – Eduardo estava com raiva.

Andressa o ignorou, levantou e foi até Larissa e falou no seu ouvido. – Eu sei do seu casinho com Beatriz, mande ele ir embora e vamos negociar. – Larissa ficou perplexa por alguns segundos, mas pensou rápido e mandou Eduardo sair, mesmo ele tendo ficado chocado com isso. – Não se preocupe, não tenho nada a ver com a sacanagem de vocês, nem me preocupo com isso, mas quero saber a verdade, não existe lobisomem não é?

- Infelizmente a história do lobisomem é verdadeira, mas como tu soube de mim e da Beatriz?

- Droga! Pensei que ia me livra disso. – ela se atira no sofá. – Esses arranhões no seu braço não são de um lobisomem ou de uma queda, são unhas de mulher, e a tensão sexual que há entre vocês é obvia, só o burro do seu marido que não percebe.

- E ele não precisa ficar sabendo.

- Claro dês que eu receba meu dinheiro certinho no final desse trabalho.

- Tem a minha palavra.

- Existem três opções até o momento de ser o lobisomem, vocês duas e seu marido, mas como nunca vi de um lobisomem ser uma mulher, por isso fiz essa cena pra ele sair.

- Não pode ser.

- Pra minha sorte pode sim.

Andressa andou por toda a fazenda até escurecer, de cavalo com Larissa e depois a pé sozinha, falou com todos os empregados, tomou nota de tudo, cada detalha podia ser crucial, precisava provar que Eduardo era realmente o lobisomem, pra matar um era necessário uma bala de prata benzida bem no coração exatamente como vários filmes e livros mostravam, menos o fato que se ele te morder a pessoa mordida viraria o lobisomem, isso de fato ficava apenas na ficção romântica.

Aquela era a exatamente a primeira lua cheia do mês, com certeza o lobisomem ia dar as caras, precisava estar pronta porque lobisomens eram feras extremamente violentas e fortes. Andressa arruma sua arma com as balas de prata, coloca uma jaqueta especial resistente até a tiros, tomou um banho de agua benta, agora era só esperar algum sinal dele.

A casa foi trancada a noite apenas os quatro ficaram lá dentro, o resto dos empregados tinham sido dispensados, era perigoso, mas era o único jeito de provar que era Eduardo o lobisomem. A noite avançou e todos adormeceram menos Andressa, estava com a adrenalina à flor da pele, aquela situação era muito perigosa até pra ela, seu coração estava acelerado até estava com um pouco de medo, enfrentar um lobisomem dentro de uma casa não era nada bom.

Depois de chegar às 5 da manhã não resistiu e cochilou no sofá da sala, mas logo acordou com um bafo quente no seu rosto, quando abriu os olhos viu apenas enormes dentes na sua frente quase que do tamanho do seu rosto, Andressa congela sentiu um medo descontrolado, a criatura a tinha pegado desprevenida, em um pequeno deslize seu, agora poderia estar condenada, ela consegue depois de alguns segundo de tensão dar um salto pra trás, mas não o suficiente pra escapar da mão do lobisomem que a acerta atirando ela pra fora da casa pela janela.

Quando Andressa acordou o sol já havia nascido, tinha quebrado uma costela por causa do ataque, sua mente ainda estava um pouco turva, passou alguns minutos relembrando passo a passo o que tinha acontecido, não se perdoava por ter sido tão burra e ter sido surpreendida daquela maneira tão fácil, era uma pessoa experiente naquele tipo de situação, mas agiu como uma verdadeira amadora, mesmo assim tinha conseguido marca o bicho. Com um pouco de dificuldade se levantou da cama pegou sua arma que estava em cima da cômoda colocou na cintura e foi pra sala encontrar o resto dos moradores.

- Onde diabos está seu marido Larissa? - falou assim que avistou ela.

- Eu não sei o que aconteceu aqui ontem Andressa, mas não foi o Eduardo que te atacou, ele esteve comigo o tempo todo, eu juro que ele não saiu do meu lado.

- Não acredito! Vocês estão juntos nisso, o que é isso? Algum complô pra me matar é isso? Algum tipo de armadilha? - Andressa puxou a arma. - Chame ele aqui ou eu atiro em ti.

- Eduardo! - ela gritou. - Isso é um erro Andressa, vamos conversar por favor eu estou implorando.


- Apenas traga ele aqui. - depois de quase um minuto ele entrou na sala.

- Tu não pode apenas jogar água benta em mim. - ele estava tremendo da cabeça aos pés.

- Isso não adianta quando tu está no seu estado normal, apenas tire a camisa e cale a boca.

Andressa olhou a sua barriga e não tinha nenhuma marca, quando foi acertada pelo golpe do lobisomem, o mais rápido possível conseguiu fazer uma pequena ferida com sua faca, as marcas quando em forma humana não desapareciam, Eduardo era inocente, isso colocava uma pulga atrás da orelha de Andressa que agora estava mais confusa do que nunca, seu trabalho seria mais difícil que imaginava.

As noites passaram e nenhum outro sinal do lobisomem, Andressa não dormiu em nenhum desses dias, estava mais agitada e nervosa do que de costume, agora era uma questão de honra achar essa criatura, estava investigando como nunca, vigiava cada pessoa daquela fazenda, anotava qualquer coisa estranha, ainda não fazia sentido pra ela, só tinham quatro pessoas dentro daquela casa, não teve invasão, tinha que ser o Eduardo, mas nada o que ela tinha anotado levava a ele.

A ultima noite de lua cheia estava chegando, Andressa sabia que o lobisomem ia aparecer, quem quer que fosse estava fazendo muito esforço pra não se transformar, e essa ultima noite tinha certeza que o lobisomem não resistiria.

A noite veio e consigo trouxe uma tensão ameaçadora, o silêncio pairava, todos estavam reunidos na sala quando soou meia noite, Andressa, Larissa, Eduardo, Beatriz e alguns outros funcionários armados. Quem quer que fosse o lobisomem estava entre eles, não poderia estar em outro lugar, o resto da fazenda estava vazia, os olhares são de desconfiança entre todos.

- Preciso ir ao banheiro. – Beatriz se levanta do sofá.

- Sozinha não. – Andressa fala.

- Eu vou com ela. – Larissa segue com ela.

- O resto por favor relaxe, essa tensão de vocês está começando a feder. – Andressa estava visivelmente irritada.

Beatriz assim que chega ao banheiro no segundo andar tenta beijar Larissa que se esquiva, não estava afim de encontros românticos naquele momento, mas ela insiste, parecia um pouco descontrolada queria agarra-la de qualquer maneira, tentando se desvencilhar das investidas Larissa rasga a blusa dela e vê o corte na barriga.


Depois de um grito alto Larissa é jogada escada a baixo, no alto da escada um lobo humanoide com dentes enormes e babando de raiva assusta os empregados armados que atiram algumas vezes e depois fogem. Andressa saca sua arma com balas de prata mira e atira, mas erra, o bicho pula da escada encima dos empregados que agora estavam desesperados, arranca a cabeça de um e o braço de outro com um simples movimento e total facilidade.

Andressa sabia que um lobisomem era uma besta difícil de ser morta por sua força e agilidade, ainda mais nesse caso inédito pra ela, um lobisomem fêmea, em todos os seus anos de estudo com criaturas das trevas nunca antes ela viu isso, mas sabia que o momento não era pra divagação, mas sim pra ação. Ela joga cadeiras e almofadas pra chamar a atenção do bicho e consegue, aqueles dentes enormes sedentos por carne humana estavam agora na sua mira, com um uivo que botaria medo no homem mais corajoso ele encara Andressa que não fraqueja puxa a arma e atira mais uma vez, erra novamente, o bicho avança pra cima dela e a derruba fazendo um corte profundo no seu braço, ela segura a dor e com as pernas consegue segurar o bicho que estava tentando morde-la a qualquer custo, em um movimento rápido tira do bolso da jaqueta um apito e assopra, o barulho parece incomodar o bicho que recua dando tendo suficiente de Andressa pegar novamente a arma que tinha caído no chão e atirar precisamente no coração da fera.


Andressa parte antes mesmo de esperar o sol nascer, precisava ir embora antes que os policiais chegassem, pegou seu dinheiro quando Larissa se recuperou e foi pra estrada. Chegou em casa no fim do dia seguinte, assim que entrou no seu apartamento encontra um bilhete na sua porta “Preciso falar contigo o mais rápido possível. Ass. Z.A.”, mesmo bufando sem vontade ela apenas abre a porta do seu apartamento joga sua bolsa e fecha a porta novamente.

Caminha algumas quadras e finalmente chega na igreja, mas antes de entrar sente alguma coisa na entrada, alguma coisa sobrenatural e aterrorizante tinha acontecido ali, chega a ficar tonta com tamanha energia no local, recuperada do baque entra na igreja vai direto no padre que estava no confessionário falando com uma pessoas.

- Saia ninguém está interessado nas tuas perversões mini mulher. – a mulher baixinha que estava se confessando com o padre olha torto pra ela.

- O que é isso? – ela pergunta ao padre.

- Me desculpa Carla, vamos terminar isso outra hora. – a mulher se levanta e vai embora aborrecida.

- O que você quer padre? – Andressa falou entrando no confessionário.


- Precisa mesmo me chamar de padre?

- Por favor, não começa, fala de uma vez, estou cansada quero ir pra casa.

- Tem uma menina no meu quarto desmaiada... – ele não conseguiu terminar a frase.

- Não acredito que isso está acontecendo de novo!

- Não é nada disso Andressa, é outra coisa venha comigo. – o padre então a leva ao seu quarto.

- Quem é essa?

- Karine, alguma coisa muito poderosa está em volta dela, ela precisa da sua ajuda. – o padre então toca o seu braço.

- Não toque em mim, nunca toque em mim, você sabe muito bem disso, qual o seu problema? Desgraçado, a nossa consulta acaba aqui. – alguns flashes dá sua infância passam pela sua cabeça.

- Depois desse tempo todo ainda não pôde me perdoar.

- Adeus padre, boa sorte com a sua missão. – Andressa sai atordoada.

- Podia pelo menos não me chamar de padre, apenas... – ele não teve coragem de terminar a frase.

Alguns dias se passaram Andressa gastou quase todo o seu dinheiro pagando diversas dívidas que tinha com pessoas perigosas, só tinha sobrado dinheiro pra comprar algumas bebidas, novamente estava sem dinheiro. Depois de beber algumas doses de whisky no bar ela vai meio que cambaleando pro seu apartamento, passa pelo corredor com dificuldade e encontra a sua vizinha do apartamento ao lado, uma velha rabugenta que lhe dá um olhar de desaprovação. Andressa senta no seu sofá com sua garrafa de vodka, bebe no gargalo liga a televisão quando escuta uns sinos percebe que era natal, desliga a tv e bebe sozinha no silêncio de seu apartamento.


sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

A Velha do Apartamento ao Lado - Escrito por Juliana Carvalho Vieira


Minhas primeiras noites no apartamento novo não foram as mais agradáveis, eu sempre acordava pela madrugada escutando gritos e algo sendo arrastado, o que eu mais achava estranho é que esses barulhos vinham do apartamento ao lado do meu, onde morava a senhora Margareth, uma senhorinha muito simpática e bondosa de 85 anos. No começo não dava tanta importância achava que poderia ser a televisão dela que deveria estar alta demais e que as coisas sendo arrastadas poderiam ser ela fazendo faxina, mas os gritos eram horríveis pareciam reais, ouvia sempre alguém pedindo socorro, que lhe soltassem implorando por sua vida. Fui até o sindico, Sr Roberto, fazer uma reclamação, eu não simpatizava muito com ele, na verdade me metia certo medo, era um homem estranho ficava pelos cantos dos corredores sempre que eu o encontrava me sentia um animal e ele um caçador, seu rosto era cheio de cicatrizes, seus dentes eram amarelos e tortos, pedi pra ele ir até o apartamento da Sr.ª Margareth verificar o que acontecia todas as noites em seu apartamento, ele me disse que iria verificar, mas que era pra eu ter paciência, pois ela era uma senhora de 85 anos que provavelmente tava com há TV um pouco alta.



Hoje estou de folga no serviço vou aproveitar e dar uma limpada no AP e ir ao supermercado, no elevador encontrei com a Sr.ª Margareth fiquei um pouco sem graça de encontrar com ela, pois era bem possível que ela soubesse que fui eu quem reclamou dos barulhos.

- Bom dia Giovanna! Esta um belo dia pra fazer compras você não acha?

- Esta sim Sr.ª Margareth, um belo dia.

- Soube que a minha televisão alta está lhe incomodando um pouco!


- Desculpa pela reclamação Sr.ª Margareth, é que levanto muito cedo e não estava conseguindo dormir.

- Não precisa me chamar de Sr.ª, e quanto à reclamação esta desculpada.

- Ok Sr.ª Marg... Quero dizer Margareth, então esse é nosso andar..


-Verdade, tenha um ótimo dia querida, outra coisa às vezes é bom fingir que não esta havendo nada nesse prédio.

Enquanto saiu do elevador percebi que ela me cheirava, e suas ultimas palavras tiveram um tom um tanto ameaçador, mas bobagem minha pensar assim de uma senhora de 85 anos que nada poderia fazer contra mim, nesse meio tempo encontrei alguns moradores e percebi que eles não tinham uma cara muito simpática, todos tinham certo mistério, mas não liguei acho que estou trabalhando muito esses meses e assistindo muito filmes de suspense.

Quando voltei pra casa o prédio estava em silêncio, logo pensei, mais uma noite que vou poder dormir direto, jantei tomei banho e fui me deitar, eram 02h30min da madrugada quando ouvi alguém gritando.

- Socorro! Por favor, me solte.

- Cala essa boca! Você não vai a lugar algum.

Ouvi choros gritos de dor, e barulhos abafados como se alguém estivesse sendo torturado, foi quando resolvi encostar o ouvido mais próximo da parede e escutei:

- Não seja curiosa Giovanna, lembre-se do ditado, a curiosidade matou o gato.

Voltei pra cama com medo, pois ouvir essas palavras não deixou voltar a dormir de novo, no dia seguinte tive medo de encontrar alguém nos corredores. Ao sair hoje de manhã pra ir trabalhar encontrei com a Sr.ª Margareth conversando com o síndico.

- Bom dia Giovanna

- Bom dia Sr.ª Margareth e Sr. Roberto como estão?

- Parece que a noite não foi muito boa pra você Giovanna!

- Por que a Sr.ª acha isso? 

- Por nada pensei que tivesse passado a noite em claro, pois está com uma cara de quem não dormiu nada.

- Dormi feito uma pedra, não ouvi nada, mas era pra ter ouvido alguma coisa? – falei com um tom de desafio.


- Só se fosse de seu interesse, pois as noites estão sendo tranquilas como sempre.

- Eu vou indo por que já estou atrasada para o trabalho, tenham um bom dia!

- Obrigado! – falou Sr. Roberto.

- Vá com Deus minha menina! Tenha um ótimo dia.

- Obrigada, pra vocês também.

- Essa menina é uma enxerida, temos que dar um jeito nela Roberto antes que ela peça ajuda de alguém, preciso me aproximar mais dela, me tornar sua amiga sua vovó. Deixe comigo Roberto hoje ela vai saber como tirar suas noites de sono. – Eu tive a nítida impressão que escutei a Sr.ª Margareth falar isso quando eu estava indo embora, não me importei muito parecia coisa de velha contrariada. 

Voltei às 19h pra casa super cansada, só encontrei o síndico cuidando das plantas nem me viu chegar, e depois não queria que ele me visse, não estava a fim de conversar, mas encontrei Sr.ª Margareth me esperando em minha porta.

- Oi minha menina vim lhe convidar pra jantar comigo essa noite?

- Obrigado Margareth, vou sim, mais tem algum motivo em especial para o convite.

- Não nada de mais, as coisas vão ficar melhor depois desta noite.

- Melhor? – fiquei confusa.

- É minha menina, nossa convivência, não ficou um boa impressão minha logo que você chegou, quero mudar essa impressão que ficou. Então as 21h te espero na minha casa.

- Ok Sr.ª Margareth. Desculpe Margareth até daqui a pouco.




Não estava a fim de ir jantar com a Margareth, mas também estou curiosa pra saber como é a casa dela por dentro, e ter uma noção do que acontece lá de noite. Resolvi descer e passar no mercado antes pra comprar umas flores pra dar pra ela, ou quem sabe bombons. As nove em ponto eu estava batendo na porta de Margareth.

- Entre querida fique a vontade logo sirvo o jantar, quer uma taça de vinho enquanto isso?

- Sim aceito.

- Espero que goste do jantar fiz especialmente pra você.

- Com certeza vou gostar.

- Aqui está seu vinho, vamos me conte um pouco de você, tem namorado? E sua família vocês se dão bem mantém contato com eles?

- Eu tinha um namorado, mas terminamos já faz um ano e da minha família só tenho meu pai, sou filha única e não tenho muito contato com ele.

- Que pena minha menina, não se preocupe que vou cuidar de você.
- Obrigada Margareth fico feliz em ouvir isso, nossa estou com uma sensação estranha no corpo.

- Tome mais um gole do vinho deve ser o cansaço do dia.

- Sim, minha visão esta ficando embasada, tem algo de errado comigo.

- Fique tranquila Giovanna logo isso vai passar.

- Margareth! Acho que vou desmaiar me ajude a me levantar!

- Relaxe tu vai melhorar.

Quando percebi já estava caída no chão, quando voltei a si percebi que estava deitada na mesa amarrada e nua ao meu lado tinha pratos, talheres e taças de vinho, comecei a gritar.

- Margareth? Me ajude o que esta acontecendo? Socorro!

- Você acordou a tempo dos meus convidados chegarem para o jantar.

- Mas o que esta acontecendo aqui por que estou amarrada?

- Se você não fosse uma menina enxerida nada disso estaria acontecendo, mas não, você tinha que dar atenção aos gritos! Você não é o tipo de refeição que eu gostaria de comer hoje, mas você me obrigou a fazer isso então se sinta privilegiada.

- Não estou entendo o que esta acontecendo. Refeição do que a Senhora esta falando?

- Cale essa boca sua vadiazinha medíocre, nos moramos nesse prédio há anos e sempre nos alimentamos de carne humana, você nunca se perguntou por que existiam tão poucos moradores aqui?  Por que todos assim como você se tornaram a nossa refeição. – Roberto falou.

- Por favor, me solte! Prometo não contarei a ninguém.

- Não eu não posso! Agora fique quieta, pois vou chamar o pessoal pra se sentar a mesa.

Comecei a gritar por socorro, alguém tinha que me ouvir, sentados à mesa estava quatro pessoas e Margareth.

- Meus queridos amigos sabem que esse não é o nosso melhor jantar, mas por motivos de segurança teremos que nos deliciar com essa menina. Sintam-se a vontade o jantar esta servido.
-Não parem, vocês podem fazer isso comigo. Socorro!

Senti algo cortar minha pele, era um homem cortando partes da minha coxa e outro o acompanhou, as duas mulheres que estavam a sua frente davam gargalhadas como se isso lhes desse um certo prazer, logo começaram a me cortar também, a campinha tocou, era a esposa e filho de Roberto, percebi que não tinha mais salvação por mais que eu gritasse ninguém iria me ouvir.

- Mamãe quero um dedo.

- Qual deles meu filho? - perguntou a esposa do Sr. Roberto.

- O anelar e o polegar.

Gritei quando ela arrancou meus dedos, como pode uma criança de 9 anos estar  junto dessa gente. 


segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

Força Assassina



Minha mãe sempre dizia que nossa família tinha grandes segredos, segredos que poderiam mudar toda a humanidade, mudar a percepção que eles tinham do mundo em si, e o mundo todo nos temeria. Ela morreu antes de me contar, e como meu pai sumiu há anos, eu não tinha nenhum outro parente fui enviado pra um orfanato, onde fui expulso desse e de diversos outros, as vezes eu nem sabia o motivo de estar sendo expulso, até que finalmente me emancipei, consegui um emprego, uma namorada, consegui ter uma vida normal, mas estou contando isso apenas pra relatar os eventos que aconteceram  no dia 12 de setembro de 2001, um dia depois da queda das Torres Gêmeas, se isso é coincidência ou não, ainda não descobri, sem mais enrolação fique com o evento.

Era uma típica noite de verão na escola técnica que Júlio estudava, o clima estava abafado e seco, todos reclamavam do calor que estava fazendo, mas nada fora do normal naquele horário. O professor estava atrasado e a turma estava fazendo a sua bagunça, menos Victor que não estava passando bem, talvez tivesse comido alguma coisa estragada ou algo que não lhe fez bem.



A escola técnica estava vazia com exceção dessa turma, por causa dos atentados nos Estados Unidos a maioria dos alunos não apareceu, mas essa turma tinha uma prova importante e não podiam perde-la. Victor estava quieto no seu canto sofrendo das dores no estomago, só observando a bagunça que Júlio estava organizando com a turma, eles não se davam bem, diversas vezes Júlio ameaçou bater em Victor durante todo o ano. Victor era um típico nerd tímido, óculos fundo de garrafa, alto desengonçado, roupas de velho, ele chamava praticamente o ataque de valentões populares como Júlio.

Quando finalmente o professor chegou foi prontamente aplicando a prova, foi longa e chata, todos estavam tensos porque a maioria não tinha estudado, já era quase onze horas da noite e ninguém tinha terminado, metade das luzes já tinham sido apagadas e vários funcionários tinham ido embora. Victor fica tonto e vomita no chão da sala, os que não botaram a mão na boca de nojo começaram a rir, e Júlio ria muito mais alto apontando pra Victor, até o professor deu uma tímida risada.


Aquele momento de nojo e risadas durou pouco, todos escutam um alto barulho de correntes arrastando pelo chão, se fez um silencio na sala, o professor saiu no corredor pra verificar o que estava acontecendo, o prédio estava vazio com apenas alguns lugares ainda iluminados, ele não viu nada, todos acharam que era apenas uma brincadeira de algum aluno troll.

O clima de brincadeira acabou rapidamente quando o professor que estava no corredor foi jogado com força contra a porta da sala, e depois é puxado pelo corredor até desaparecer na escuridão. Todos os alunos ficam assustados, ficam olhando pelas janelas apavorados, Júlio era o mais corajoso e sai pela porta chamando pelo professor, mas volta em seguida, pois Victor estava se contorcendo no chão e babando, Júlio o chuta diversas vezes até que ele para de se contorcer e fica desacordado, não teve tempo nem deles se recuperarem, pedaços do corpo do professor são jogados pra dentro da sala, braços, pernas, tripas acertam os alunos, o pavor agora tinha tomado conta, a gritaria das mulheres era ensurdecedor, Júlio tenta botar ordem no caos, mas em vão.


Victor acorda com a mente ainda turva, e se apavora com a cena que vê dentro da sala, praticamente ele estava em um rio vermelho, a carnificina era tanta que era praticamente impossível identificar que membros eram de quem, até as paredes estavam pintadas de vermelho. Tripas misturadas com tripas de outros alunos, braços e pernas rasgados em diferentes tamanhos, o mais estranho eram os corações empilhados no canto da sala, como se estivessem sido separados pra alguma coisa especial. Victor estava confuso sua cabeça estava doendo, tenta sair dali até que percebe movimento naquele rio de sangue, alguns pedaços dos corpos começam a se mexer, duas pernas se levantam, um troco feminino com os peitos de fora ainda intactos flutua pra cima das pernas, e dois braços se juntam ao tronco, e uma cabeça feminina se põe encima do tronco.




- Vem perder a sua virgindade amor. – “O Monstro Frankstein” se aproxima de Victor de maneira desengonçada com o sexo exposto. Ele tremendo de medo a deixa tirar a sua roupa enquanto ela o beija profundamente como se estivesse sugando a sua alma, ela monta nele e com um pedaço de osso crava no seu estomago.


Júlio observa tudo pela janela com um sorriso no rosto, seus olhos estavam brancos, o monstro de corpos mortos depois de acabar com Victor volta ao seu estado no chão de corpos em pedaços. Júlio lava suas mãos no banheiro, ajeita a sua roupa pega a sua mochila e vai embora.

Assim que Júlio sai pra rua pela porta principal da escola, um grupo de pessoas com vestes longas como capas e os rostos escondidos por capuzes longos estavam a sua espera, ele se assusta, seus olhos ficam brancos novamente, mas antes que pudesse fazer alguma coisa um dos encapuzados se aproxima e tira o capuz, era a sua mãe, que ele achava que estava morta.

- Mãe?

- Venha conosco filho.

- o que eu sou mãe?


- Deus!



segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Fantoche




A casa de bonecos não ficava muito longe da sua casa, Jéssica dispensou o carro e foi a pé, logo teria que vende-lo por causa da situação financeira difícil que estavam enfrentando ela e seu marido. Essa loja dava certos calafrios nela, aqueles bonecos de pano com seus olhos fixos como se estivessem esperando a chance de piscar. Carlos era mágico, mas gostava bastante da ideia de se apresentar com bonecos de ventriloco, chamaria bastante público, era o que eles precisavam no momento.


Tinha bonecos de todos os tipos; grandes; pequenos; negros; brancos; azuis; verdes; alguns tinham corpos inteiros, outros da cintura pra cima; mulheres; homens; bonecos de animais também, muitos deles Jéssica achou horrorosos. O senhor que a atendeu também era bastante estranho, tinha quase certeza que em todo o tempo que estivera com ele não tinha piscado uma vez se quer, seu rosto parecia daqueles famosos que exageravam nas plásticas, parecia de cera sem expressão.


O pó tomava conta do local, diversas vezes ela teve que parar pra espirrar, depois de quase meia hora caminhando pra lá e pra cá na loja, ela finalmente encontrou o boneco perfeito, era até parecido com seu marido, tinha um pouco mais de um metro e meio de altura, cabelos vermelhos curtos, a boca desenhada em forma de sorriso e bochechas rosadas.

O boneco que ela escolheu e apelidou de Jr. era bem pesado, mas muito bem feito, tinha um buraco nas costas pra mão de Carlos o controlar, depois de decidida ela comprou. Quando chegou em casa ele quase chorou de alegria com o presente de sua amada esposa, era perfeito, tudo que ele queria, sua felicidade era tanta que decidiu fazer o jantar, a comida favorita de sua esposa, Strogonoff.

Depois de um lindo e delicioso jantar Carlos decidiu treinar um pouco com o boneco antes de se deitar, Jéssica adormeceu o esperando. Ao acordar ela sentiu uma mão no seu rosto e movimento no seu lado, ainda com os olhos fechados perguntou porque ele ainda estava deitado se tinha que levantar cedo, mas ao abrir os olhos não era Carlos que estava na cama ao seu lado, mas sim o boneco Jr.


Jéssica levanta assustada tinha certeza que sentiu alguém se movimentando ao seu lado, mas era o boneca que estava ali deitado sem vida, gritou por Carlos, mas ele não estava em casa. Ela se levantou deixando o boneco na cama foi tomar banho, pois também precisava sair, enquanto estava no chuveiro teve a impressão que estavam a observando.

O dia demorou a passar o clima abafado e o céu nublado não ajudavam muito, mas mesmo assim Carlos estava empolgado pra voltar pra casa e continuar treinando com seu novíssimo boneco. Já tinha comentado com seus amigos que começaria uma nova atração em breve, assim que chegou em casa foi direto pegar o boneco, sem ao menos dar um beijo em Jéssica que estava vendo televisão, que ficou irritadíssima.


A semana foi passando e Carlos estava cada vez mais viciado no boneco, treinava diversas falas, movimentos, ficava mais tempo com Jr. do que com Jéssica, e ela não estava gostando nada disso.

- O que foi essa mordida na tua mão? – Jéssica perguntou quando viu a marca de dentes na mão de Carlos.

- Pior que eu não sei, viu algum bicho por aí de noite? – Ele respondeu meio confuso, parecia mesmo não saber da origem do machucado.

- Não, mas por que não pergunta pra esse boneco, ele deve saber, vocês parecem um casal agora, já que passa o tempo todo com ele. – Ela pareceu não acreditar nele.

- O nome dele é Jr.

- Eu não to ouvindo isso, dá licença eu vou me deitar. – Jéssica foi pro seu quarto muito irritada.

Jéssica adormeceu rapidamente estava muito cansada, acordou de madrugada pra ir ao banheiro, Carlos não estava na cama, abriu a porta devagar e escutou uma conversa entre Carlos e o boneco, achou estranho, mas pensou ser apenas treinamento pra a apresentação, foi ao banheiro depois voltou a dormir. Quando acordou pela manhã o boneco estava novamente deitado ao seu lado, mas dessa vez nos braços de Carlos que dormia profundamente.
- Já acordou Jéssica? Estava esperando por ti. – A boca do boneco se mexeu enquanto ele se virava pra ela.

- Tá de brincadeira comigo né Carlos? Pode para com essa palhaçada. – Depois do pequeno susto ela falou.
- Não existe palhaçada querida, eu estou no comando. – O boneco continuou mexendo a boca, Jéssica levanta irritada.

- O que foi? O que está acontecendo? Droga estou atrasado. – Carlos aparentemente havia despertado só agora, mas não convenceu Jéssica.

- Não se faça de inocente, tentando me assustar com esse boneco, você tá ficando maluco só pode.

- O que? Eu acabei de acordar, foi tu que colocou o Jr. aqui? Eu deixei ele na sala. – Carlos novamente parecia confuso.

- Não me faça de boba, por favor! – Jéssica foi tomar o seu banho enquanto Carlos sentiu seu braço doer.
Hoje Carlos ia fazer a sua primeira apresentação com o boneco de ventriloco em uma festa infantil, Jéssica decidiu ir junto pra prestigiar o seu marido e também ficar de olho nele por causa do jeito estranho que vinha se comportando.

Carlos fez as apresentações de mágica super feliz como sempre, mas depois que colocou o braço dentro do boneco e começou a sua apresentação como ventrílogo, ele mudou, ficou mais sério, fez piadas pesadas, falou palavrões, gestos obscenos, os pais das crianças ficaram chocados, e ele foi expulso do lugar.


Durante toda a viagem de volta Carlos ficou calado apenas olhava pra frente com a expressão vazia como se estivesse em transe, Jéssica estava preocupada, ele ainda estava com o boneco no braço que se mexia constantemente, o que estava deixando ela nervosa e desconfortável. Assim que chegaram em casa ele se sentou no sofá e ali ficou, olhando pra frente sem se mexer, enquanto o boneco no seu braço parecia estar vivo e consciente de tudo a sua volta.

- Eu preciso de você, aliás, eu acho que te amo. – A voz saiu enquanto o Jr. mexia a boca, Jéssica olhava só pra seu marido ignorando o boneco.

- Eu também te amo Carlos, mas o que está acontecendo? – Ela se aproximou dele e segurou seu rosto com as mãos.

- Carlos não existe mais, apenas eu meu amor. – O braço de Carlos levantou com o boneco. – Eu estou no controle, fale apenas comigo agora, se quiser que seu marido permaneça vivo.

- Carlos que tipo de brincadeira é essa?

- Não é brincadeira Jéssica, entenda de uma vez por todas, ou quer que eu me enfureça. – O corpo de Carlos levantou, com a outra mão deu um tapa na cara de Jéssica. – Agora sente, viu como esse corpo agora é meu. Agora nós vamos viver uma vida feliz juntos.

Jéssica estava ajoelhada na sua frente chorando com a mão na boca, o corpo de Carlos estica o braço com Jr. até se aproximar bem perto dela, pode perceber que o boneco estava definitivamente vivo, ele afasta as mãos dela do rosto e a beija na boca, uma sensação diferente passa pelo seu corpo e ela se entrega ao boneco.