sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

A Velha do Apartamento ao Lado - Escrito por Juliana Carvalho Vieira


Minhas primeiras noites no apartamento novo não foram as mais agradáveis, eu sempre acordava pela madrugada escutando gritos e algo sendo arrastado, o que eu mais achava estranho é que esses barulhos vinham do apartamento ao lado do meu, onde morava a senhora Margareth, uma senhorinha muito simpática e bondosa de 85 anos. No começo não dava tanta importância achava que poderia ser a televisão dela que deveria estar alta demais e que as coisas sendo arrastadas poderiam ser ela fazendo faxina, mas os gritos eram horríveis pareciam reais, ouvia sempre alguém pedindo socorro, que lhe soltassem implorando por sua vida. Fui até o sindico, Sr Roberto, fazer uma reclamação, eu não simpatizava muito com ele, na verdade me metia certo medo, era um homem estranho ficava pelos cantos dos corredores sempre que eu o encontrava me sentia um animal e ele um caçador, seu rosto era cheio de cicatrizes, seus dentes eram amarelos e tortos, pedi pra ele ir até o apartamento da Sr.ª Margareth verificar o que acontecia todas as noites em seu apartamento, ele me disse que iria verificar, mas que era pra eu ter paciência, pois ela era uma senhora de 85 anos que provavelmente tava com há TV um pouco alta.



Hoje estou de folga no serviço vou aproveitar e dar uma limpada no AP e ir ao supermercado, no elevador encontrei com a Sr.ª Margareth fiquei um pouco sem graça de encontrar com ela, pois era bem possível que ela soubesse que fui eu quem reclamou dos barulhos.

- Bom dia Giovanna! Esta um belo dia pra fazer compras você não acha?

- Esta sim Sr.ª Margareth, um belo dia.

- Soube que a minha televisão alta está lhe incomodando um pouco!


- Desculpa pela reclamação Sr.ª Margareth, é que levanto muito cedo e não estava conseguindo dormir.

- Não precisa me chamar de Sr.ª, e quanto à reclamação esta desculpada.

- Ok Sr.ª Marg... Quero dizer Margareth, então esse é nosso andar..


-Verdade, tenha um ótimo dia querida, outra coisa às vezes é bom fingir que não esta havendo nada nesse prédio.

Enquanto saiu do elevador percebi que ela me cheirava, e suas ultimas palavras tiveram um tom um tanto ameaçador, mas bobagem minha pensar assim de uma senhora de 85 anos que nada poderia fazer contra mim, nesse meio tempo encontrei alguns moradores e percebi que eles não tinham uma cara muito simpática, todos tinham certo mistério, mas não liguei acho que estou trabalhando muito esses meses e assistindo muito filmes de suspense.

Quando voltei pra casa o prédio estava em silêncio, logo pensei, mais uma noite que vou poder dormir direto, jantei tomei banho e fui me deitar, eram 02h30min da madrugada quando ouvi alguém gritando.

- Socorro! Por favor, me solte.

- Cala essa boca! Você não vai a lugar algum.

Ouvi choros gritos de dor, e barulhos abafados como se alguém estivesse sendo torturado, foi quando resolvi encostar o ouvido mais próximo da parede e escutei:

- Não seja curiosa Giovanna, lembre-se do ditado, a curiosidade matou o gato.

Voltei pra cama com medo, pois ouvir essas palavras não deixou voltar a dormir de novo, no dia seguinte tive medo de encontrar alguém nos corredores. Ao sair hoje de manhã pra ir trabalhar encontrei com a Sr.ª Margareth conversando com o síndico.

- Bom dia Giovanna

- Bom dia Sr.ª Margareth e Sr. Roberto como estão?

- Parece que a noite não foi muito boa pra você Giovanna!

- Por que a Sr.ª acha isso? 

- Por nada pensei que tivesse passado a noite em claro, pois está com uma cara de quem não dormiu nada.

- Dormi feito uma pedra, não ouvi nada, mas era pra ter ouvido alguma coisa? – falei com um tom de desafio.


- Só se fosse de seu interesse, pois as noites estão sendo tranquilas como sempre.

- Eu vou indo por que já estou atrasada para o trabalho, tenham um bom dia!

- Obrigado! – falou Sr. Roberto.

- Vá com Deus minha menina! Tenha um ótimo dia.

- Obrigada, pra vocês também.

- Essa menina é uma enxerida, temos que dar um jeito nela Roberto antes que ela peça ajuda de alguém, preciso me aproximar mais dela, me tornar sua amiga sua vovó. Deixe comigo Roberto hoje ela vai saber como tirar suas noites de sono. – Eu tive a nítida impressão que escutei a Sr.ª Margareth falar isso quando eu estava indo embora, não me importei muito parecia coisa de velha contrariada. 

Voltei às 19h pra casa super cansada, só encontrei o síndico cuidando das plantas nem me viu chegar, e depois não queria que ele me visse, não estava a fim de conversar, mas encontrei Sr.ª Margareth me esperando em minha porta.

- Oi minha menina vim lhe convidar pra jantar comigo essa noite?

- Obrigado Margareth, vou sim, mais tem algum motivo em especial para o convite.

- Não nada de mais, as coisas vão ficar melhor depois desta noite.

- Melhor? – fiquei confusa.

- É minha menina, nossa convivência, não ficou um boa impressão minha logo que você chegou, quero mudar essa impressão que ficou. Então as 21h te espero na minha casa.

- Ok Sr.ª Margareth. Desculpe Margareth até daqui a pouco.




Não estava a fim de ir jantar com a Margareth, mas também estou curiosa pra saber como é a casa dela por dentro, e ter uma noção do que acontece lá de noite. Resolvi descer e passar no mercado antes pra comprar umas flores pra dar pra ela, ou quem sabe bombons. As nove em ponto eu estava batendo na porta de Margareth.

- Entre querida fique a vontade logo sirvo o jantar, quer uma taça de vinho enquanto isso?

- Sim aceito.

- Espero que goste do jantar fiz especialmente pra você.

- Com certeza vou gostar.

- Aqui está seu vinho, vamos me conte um pouco de você, tem namorado? E sua família vocês se dão bem mantém contato com eles?

- Eu tinha um namorado, mas terminamos já faz um ano e da minha família só tenho meu pai, sou filha única e não tenho muito contato com ele.

- Que pena minha menina, não se preocupe que vou cuidar de você.
- Obrigada Margareth fico feliz em ouvir isso, nossa estou com uma sensação estranha no corpo.

- Tome mais um gole do vinho deve ser o cansaço do dia.

- Sim, minha visão esta ficando embasada, tem algo de errado comigo.

- Fique tranquila Giovanna logo isso vai passar.

- Margareth! Acho que vou desmaiar me ajude a me levantar!

- Relaxe tu vai melhorar.

Quando percebi já estava caída no chão, quando voltei a si percebi que estava deitada na mesa amarrada e nua ao meu lado tinha pratos, talheres e taças de vinho, comecei a gritar.

- Margareth? Me ajude o que esta acontecendo? Socorro!

- Você acordou a tempo dos meus convidados chegarem para o jantar.

- Mas o que esta acontecendo aqui por que estou amarrada?

- Se você não fosse uma menina enxerida nada disso estaria acontecendo, mas não, você tinha que dar atenção aos gritos! Você não é o tipo de refeição que eu gostaria de comer hoje, mas você me obrigou a fazer isso então se sinta privilegiada.

- Não estou entendo o que esta acontecendo. Refeição do que a Senhora esta falando?

- Cale essa boca sua vadiazinha medíocre, nos moramos nesse prédio há anos e sempre nos alimentamos de carne humana, você nunca se perguntou por que existiam tão poucos moradores aqui?  Por que todos assim como você se tornaram a nossa refeição. – Roberto falou.

- Por favor, me solte! Prometo não contarei a ninguém.

- Não eu não posso! Agora fique quieta, pois vou chamar o pessoal pra se sentar a mesa.

Comecei a gritar por socorro, alguém tinha que me ouvir, sentados à mesa estava quatro pessoas e Margareth.

- Meus queridos amigos sabem que esse não é o nosso melhor jantar, mas por motivos de segurança teremos que nos deliciar com essa menina. Sintam-se a vontade o jantar esta servido.
-Não parem, vocês podem fazer isso comigo. Socorro!

Senti algo cortar minha pele, era um homem cortando partes da minha coxa e outro o acompanhou, as duas mulheres que estavam a sua frente davam gargalhadas como se isso lhes desse um certo prazer, logo começaram a me cortar também, a campinha tocou, era a esposa e filho de Roberto, percebi que não tinha mais salvação por mais que eu gritasse ninguém iria me ouvir.

- Mamãe quero um dedo.

- Qual deles meu filho? - perguntou a esposa do Sr. Roberto.

- O anelar e o polegar.

Gritei quando ela arrancou meus dedos, como pode uma criança de 9 anos estar  junto dessa gente. 


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