A casa de bonecos não ficava muito
longe da sua casa, Jéssica dispensou o carro e foi a pé, logo teria que
vende-lo por causa da situação financeira difícil que estavam enfrentando ela e
seu marido. Essa loja dava certos calafrios nela, aqueles bonecos de pano com
seus olhos fixos como se estivessem esperando a chance de piscar. Carlos era
mágico, mas gostava bastante da ideia de se apresentar com bonecos de ventriloco,
chamaria bastante público, era o que eles precisavam no momento.
Tinha bonecos de todos os tipos;
grandes; pequenos; negros; brancos; azuis; verdes; alguns tinham corpos
inteiros, outros da cintura pra cima; mulheres; homens; bonecos de animais
também, muitos deles Jéssica achou horrorosos. O senhor que a atendeu também
era bastante estranho, tinha quase certeza que em todo o tempo que estivera com
ele não tinha piscado uma vez se quer, seu rosto parecia daqueles famosos que
exageravam nas plásticas, parecia de cera sem expressão.
O pó tomava conta do local, diversas
vezes ela teve que parar pra espirrar, depois de quase meia hora caminhando pra
lá e pra cá na loja, ela finalmente encontrou o boneco perfeito, era até
parecido com seu marido, tinha um pouco mais de um metro e meio de altura,
cabelos vermelhos curtos, a boca desenhada em forma de sorriso e bochechas
rosadas.
O boneco que ela escolheu e apelidou
de Jr. era bem pesado, mas muito bem feito, tinha um buraco nas costas pra mão
de Carlos o controlar, depois de decidida ela comprou. Quando chegou em casa
ele quase chorou de alegria com o presente de sua amada esposa, era perfeito,
tudo que ele queria, sua felicidade era tanta que decidiu fazer o jantar, a
comida favorita de sua esposa, Strogonoff.
Depois de um lindo e delicioso jantar
Carlos decidiu treinar um pouco com o boneco antes de se deitar, Jéssica
adormeceu o esperando. Ao acordar ela sentiu uma mão no seu rosto e movimento
no seu lado, ainda com os olhos fechados perguntou porque ele ainda estava
deitado se tinha que levantar cedo, mas ao abrir os olhos não era Carlos que
estava na cama ao seu lado, mas sim o boneco Jr.
Jéssica levanta assustada tinha
certeza que sentiu alguém se movimentando ao seu lado, mas era o boneca que estava
ali deitado sem vida, gritou por Carlos, mas ele não estava em casa. Ela se
levantou deixando o boneco na cama foi tomar banho, pois também precisava sair,
enquanto estava no chuveiro teve a impressão que estavam a observando.
O dia demorou a passar o clima
abafado e o céu nublado não ajudavam muito, mas mesmo assim Carlos estava
empolgado pra voltar pra casa e continuar treinando com seu novíssimo boneco.
Já tinha comentado com seus amigos que começaria uma nova atração em breve,
assim que chegou em casa foi direto pegar o boneco, sem ao menos dar um beijo
em Jéssica que estava vendo televisão, que ficou irritadíssima.
A semana foi passando e Carlos estava
cada vez mais viciado no boneco, treinava diversas falas, movimentos, ficava
mais tempo com Jr. do que com Jéssica, e ela não estava gostando nada disso.
- O que foi essa mordida na tua mão? – Jéssica perguntou
quando viu a marca de dentes na mão de Carlos.
- Pior que eu não sei, viu algum bicho por aí de noite? – Ele
respondeu meio confuso, parecia mesmo não saber da origem do machucado.
- Não, mas por que não pergunta pra esse boneco, ele deve
saber, vocês parecem um casal agora, já que passa o tempo todo com ele. – Ela
pareceu não acreditar nele.
- O nome dele é Jr.
- Eu não to ouvindo isso, dá licença eu vou me deitar. –
Jéssica foi pro seu quarto muito irritada.
Jéssica adormeceu rapidamente estava
muito cansada, acordou de madrugada pra ir ao banheiro, Carlos não estava na
cama, abriu a porta devagar e escutou uma conversa entre Carlos e o boneco,
achou estranho, mas pensou ser apenas treinamento pra a apresentação, foi ao
banheiro depois voltou a dormir. Quando acordou pela manhã o boneco estava
novamente deitado ao seu lado, mas dessa vez nos braços de Carlos que dormia
profundamente.
- Já acordou Jéssica? Estava esperando por ti. – A boca do
boneco se mexeu enquanto ele se virava pra ela.
- Tá de brincadeira comigo né Carlos? Pode para com essa
palhaçada. – Depois do pequeno susto ela falou.
- Não existe palhaçada querida, eu estou no comando. – O
boneco continuou mexendo a boca, Jéssica levanta irritada.
- O que foi? O que está acontecendo? Droga estou atrasado. –
Carlos aparentemente havia despertado só agora, mas não convenceu Jéssica.
- Não se faça de inocente, tentando me assustar com esse
boneco, você tá ficando maluco só pode.
- O que? Eu acabei de acordar, foi tu que colocou o Jr. aqui?
Eu deixei ele na sala. – Carlos novamente parecia confuso.
- Não me faça de boba, por favor! – Jéssica foi tomar o seu
banho enquanto Carlos sentiu seu braço doer.
Hoje Carlos ia fazer a sua primeira
apresentação com o boneco de ventriloco em uma festa infantil, Jéssica decidiu
ir junto pra prestigiar o seu marido e também ficar de olho nele por causa do
jeito estranho que vinha se comportando.
Carlos fez as apresentações de mágica
super feliz como sempre, mas depois que colocou o braço dentro do boneco e
começou a sua apresentação como ventrílogo, ele mudou, ficou mais sério, fez
piadas pesadas, falou palavrões, gestos obscenos, os pais das crianças ficaram
chocados, e ele foi expulso do lugar.
Durante toda a viagem de volta Carlos
ficou calado apenas olhava pra frente com a expressão vazia como se estivesse
em transe, Jéssica estava preocupada, ele ainda estava com o boneco no braço
que se mexia constantemente, o que estava deixando ela nervosa e
desconfortável. Assim que chegaram em casa ele se sentou no sofá e ali ficou,
olhando pra frente sem se mexer, enquanto o boneco no seu braço parecia estar
vivo e consciente de tudo a sua volta.
- Eu preciso de você, aliás, eu acho que te amo. – A voz saiu
enquanto o Jr. mexia a boca, Jéssica olhava só pra seu marido ignorando o
boneco.
- Eu também te amo Carlos, mas o que está acontecendo? – Ela
se aproximou dele e segurou seu rosto com as mãos.
- Carlos não existe mais, apenas eu meu amor. – O braço de
Carlos levantou com o boneco. – Eu estou no controle, fale apenas comigo agora,
se quiser que seu marido permaneça vivo.
- Carlos que tipo de brincadeira é essa?
- Não é brincadeira Jéssica, entenda de uma vez por todas, ou
quer que eu me enfureça. – O corpo de Carlos levantou, com a outra mão deu um
tapa na cara de Jéssica. – Agora sente, viu como esse corpo agora é meu. Agora
nós vamos viver uma vida feliz juntos.
Jéssica estava ajoelhada na sua
frente chorando com a mão na boca, o corpo de Carlos estica o braço com Jr. até
se aproximar bem perto dela, pode perceber que o boneco estava definitivamente
vivo, ele afasta as mãos dela do rosto e a beija na boca, uma sensação diferente
passa pelo seu corpo e ela se entrega ao boneco.
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