"Tornei-me insano, com longos intervalos de uma horrível sanidade" - Edgar Allan Poe

W. R. SANTHOS

Minha foto
Porto Alegre, Rs, Brazil
Escritor. Pintor. Cineasta Amador.

Postagens populares da semana

Seguidores

sexta-feira, 18 de outubro de 2019

Maldito Palhaço






A lona estava prestes a cair. As chamas já tinham chegado lá em cima. Todas as diversões, os sorrisos, as caras alegres, foram transformadas em pavores absurdos. O circo, que é um palco de alegria, se transformou em terror. O inferno foi o que aquele lugar se transformou. E o diabo podia ser visto no meio do picadeiro, rindo descontroladamente, como se sua diversão tivesse começado naquele instante. O palhaço era o único que estava gostando do que estava acontecendo. As chamas iam engolir todos que estavam ali dentro, sem perdão ou misericórdia.

Um dia antes...

As preparações para a apresentação estavam a toda. Essa seria a primeira apresentação do circo na cidade. Seria um espetáculo enorme, todos estavam nervosos, menos um de seus palhaços, que estava estranho. O palhaço, conhecido como Pimpão, era um dos mais alegres e divertidos do circo, mas tudo isso mudou quando recebeu uma encomenda misteriosa.


Lúcios, o anão do circo, que estava limpando a parte onde ficava os cavalos, pegou Pimpão ajoelhado no chão, com uma esfera luminosa entre os braços. Quando chegou para se aproximar e ver o que estava acontecendo, sentiu um forte calor, e uma sensação de fúria tomando conta. Saiu correndo dali suando frio e sem forças.


O palhaço já não era mais um palhaço, mas tinha se tornado uma entidade diferente. Uma coisa que não era desse mundo. As preparações para a apresentação estavam finalizando e ninguém mais sabia onde Pimpão estava. Todos distraídos com seus afazeres, não perceberam o palhaço na espreita, agourando cada detalhe de tudo o que estava sendo feito.



Finalmente a apresentação estava prestes a começar. Tudo parecia extremamente normal. O palhaço substituto já estava a postos. Os ensaios já tinham terminado, e a sincronia estava perfeita. A bilheteria foi aberta e o movimento começou.

O circo estava lotado, o maior público que já tiveram. Famílias, jovens, velhos, crianças, todas animadas com o início do espetáculo. A apresentação começou com os malabaristas entretendo o público. Logo em seguida o palhaço substituto, Euzébio, entrou e fez a alegria da criançada.

Não se sabe ao certo onde o fogo começou. Mas Lúcios viu o palhaço Pimpão, caminhando sorrateiramente embaixo das arquibancadas. O desespero foi descontrolado, quando perceberam o primeiro sinal do fogo.


Não pareciam ser chamas normais, elas pareciam ter vida própria, ou estavam sendo controladas. Bloquearam as saídas, e iam atrás de cada pessoa como enviados da morte. E finalmente o palhaço se revelou, rindo encima do picadeiro, seus olhos pareciam conter a alma do diabo. 



sexta-feira, 11 de outubro de 2019

O Filho




Ele sempre teve um olhar estranho, desde que abriu os olhos pela primeira vez. Com apenas alguns segundos de vida, parecia já ter a consciência do mundo, e uma não tão boa. Fiz o parto dele, e o acompanhei durante um longo tempo, mesmo não sendo o tipo de médico indicado pra isso. A família tinha confiança em mim, pois eles também sabiam o que eu sabia, que aquela criança tinha algo de diferente. E que ela poderia fazer algo terrível, o que realmente aconteceu.

Não vou revelar os nomes dos pais, quero preservar o resto da família, ou algo que possa acontecer comigo. Acompanhei eles por anos, e sei tudo o que sofreram. Posso me tornar um louco com tudo isso que vou contar, mas juro que é tudo a mais pura verdade.


O parto foi bem difícil, ele demorou pra querer entrar no mundo. Foi uma gestação de 10 meses, pouco comum, e perigoso para a mãe. Ela sangrou muito, teve uma hemorragia interna, que com muito custo conseguimos parar. O pai estava nervoso na sala de espera, foi proibido de acompanhar o nascimento do primeiro filho, pela periculosidade do momento. Os gritos eram escutados até no corredor. Até as enfermeiras estavam aflitas, se acumulavam perto da porta. Até os médicos apareciam de vez enquanto, preocupados com o que estava acontecendo.


Assim que o retirei de dentro de sua mãe, senti aquele olhar, não era de um bebê recém-nascido, não sei explicar, mas senti uma angustia percorrer minha mente.  Seu olhar parecia gelado e sem emoções. Ele não chorou, nem depois que dei os tapinhas padrões. Não sei se enlouqueci, mas ele parecia saber das coisas, ficou com o olhar fixo em mim, e eu posso jurar que ele deu uma risada debochada.

Outra coisa muito estranha que aconteceu mais tarde nesse mesmo dia. Depois de todos os procedimentos, deixamos ele no berçário. Todos os outros bebês estavam dormindo, e os que não estavam, apenas olhavam pro horizonte em silêncio, como normalmente fazem. Assim que ele entrou no berçário, os que estavam dormindo acordaram, e um choro coletivo se iniciou no local, e não parou até ele ser retirado.



Depois de alguns dias, a mãe e seu bebê tiveram alta. Peguei os contatos deles, queria manter contato, pois estava com uma pulga atrás da orelha. A noite após o parto foi muito difícil pra mim. Tive pesadelos a noite inteira, suava tanto que deixei minha cama encharcada. Minha esposa ficou preocupada, achava que estava ficando doente. Tive que tomar alguns remédios para ansiedade, eu tremia feito vara verde, mal conseguia ficar de pé. O encontro com aquele bebê tinha estragado meu sistema nervoso.

Os meses foram passando e coisas estranhas aconteceram na casa daquele casal. Eles tinham dois gatos e um cachorro. Os gatos que sempre ficavam em casa, agora não podiam ver uma janela aberta que já saiam. O cachorro que era sempre comportado, agora fazia suas necessidades pela casa em qualquer lugar. Vivia sempre acuado embaixo dos móveis, como se esperasse um predador o atacar a qualquer momento.


Fazia quatro meses que o bebê estava em casa.  E a mãe estava doentia dês da saída do hospital. Estive acompanhado ela desde então, mas nenhum remédio fazia efeito. Tinha a aparência cansada e assustada, fraca e sem vontade de fazer nada. Tinha quase certeza que era depressão, mas suas enfermidades eram mais físicas.

Aos seis meses, aconteceu a primeira prova daquilo que sentia dentro de mim. O que os pais me relataram, era puro terror e agonia. Tenho até medo de descrever o que aconteceu, mas o mundo precisa saber tudo o que aconteceu naquela casa, e saber o que realmente eu trouxe para o mundo naquela noite.

Continua...



LENDAS URBANAS

LENDAS URBANAS

Postagens populares

100.000

100.000

Página no Facebook