Relatos
A
maioria das freiras já tinha abandonado aquele manicômio que era administrado
pela igreja, os boatos eram vários, o mais forte era que as crianças internadas
ali estavam possuídas pelo tinhoso, o diabo. A freira Dorothy foi a ultima a
abandonar o local, em uma noite fria de outono deitada na sua cama
pronta pra dormir com uma vela no lado da cabeceira, um sopro vindo de onde ela
não identificou apagou a chama da vela, a freira costumava a deixar o seu
cãozinho vira-lata dormindo embaixo da cama, e sempre abaixava a sua mão pra
ele dar uma lambida, e foi isso que ela fez quando a vela se apagou de repente,
a presença dele sempre a deixava mais confiante, escutou alguns barulhos no seu
pequeno banheiro, recebeu outra lambida do seu cão embaixo da cama e se
levantou. Abriu a porta de madeira e não havia ninguém ali, mas viu algo
escrito no espelho, acendeu a vela e leu “Nós também gostamos de lamber!”, ela
gelou, sentou na tampa da privada, notou que tinha alguma coisa que estava
deixando a tampa entre aberta, quando abriu era o seu cão dilacerado, ao soltar
um grito de pavor algo saiu correndo debaixo da sua cama desaparecendo no corredor escuro.
Depois
da saída de Dorothy as coisas ficaram um pouco mais calmas, o Bispo Alfredo que
assumiu o local há pouco tempo achava essas historias fantasias de freiras sem
vocação, as crianças internadas naquele local mereciam um tratamento da ciência
e não de contos noturnos, o que era um pouco hipócrita pra uma pessoa que vive
pela religião, muitos achavam, nesses incluíam o Padre Samael, que o Bispo
recebia dinheiro de alguns estudiosos.
Quarenta
crianças entre 5 até 16 anos estavam internadas ali no momento, muitas delas
gritavam a noite inteira dizendo que alguma coisa estava dentro delas, alguns
iam mais afundo e se mutilavam com o que encontrassem pela frente. Em uma noite
uma delas com uma tesoura que pegou escondida conseguiu arrancar boa parte da
pele do seu peito, o Padre Samael vomitou diversas vezes naquela noite
terrível, o menino Taylor tinha apenas oito anos e não passou dessa idade, os
ferimentos o mataram em dois dias, ele foi enterrado no cemitério atrás do
manicômio.
Desejo
A
freira mais jovem era Judity de 22 anos, foi chamada pra lá como pedido
especial do Bispo Alfredo, olhos verdes, rosto de anjo, parecia ser
extremamente inocente, seus pais tinham morrido de tuberculose e durante o
enterro disse ter visto no céu a imagem de Jesus, abdicou de tudo e seguiu sua
vocação. Padre Samael diversas vezes a viu saindo de dentro da sala do Bispo
durante a noite, alguma coisa estava errada e ele sabia.
-
Posso perguntar o que estava fazendo a essa hora dentro dos aposentos do Bispo?
– o Padre perguntou.
-
Estava apenas o ajudando em algumas cartas. – notou que ela tinha grandes
olheiras, mas não pode continuar com os questionamentos, um grito alto de uma
das crianças os interrompeu.
Trevas
Os
gritos eram do garoto do quarto 16, era o único que não tinha um nome, ele foi
abandonado na porta do manicômio um ano atrás, estava desacordado e assim
permaneceu até o momento. Quando o Padre chegou diversas freiras estavam na
entrada da porta, mas nenhuma com coragem para entrar, ele abriu caminho e entrou,
o que viu foi o garoto sentado na cama com um sorriso estranho no rosto, era um
pouco malicioso como se estivesse querendo fazer algo muito ruim, o Padre
chegou com cautela nele.
-
Oi! Bom que acordou finalmente.
-
AÇAEMA AMU ÉZUL A EDNO OROME IAPMES OHLIFMU UOSUE! – disse essa frase com uma
voz que parecia metálica.
-
Que? – o Padre se assustou e recuou.
O
garoto ficou de pé na cama, estava muito magro, no período em que estava em um
tipo de coma só se alimentava por líquidos, arrancou as roupas que estava
vestindo, suas costelas e braços finos ficaram a mostra, seu corpo também
estava todo marcado por cicatrizes antigas e diversas outras recentes que o
padre pode notar que algumas eram feitas por cigarro. Ele caminhou até o Padre
que recuou mais ainda, os olhos do garoto ficaram pretos, a porta se fechou com
uma forte batida, a janela que estava aberta deixava entrar agora uma forte
ventania que dificultava a visão do Padre que estava de frente para ela, o
garoto então pula encima dele o derrubando no chão, montado encima dele o
garoto começa a rezar o “pai nosso”.
-
Pai nosso que estás nos céus, santificado seja o Vosso nome, venha a nós o
Vosso Reino. Seja feita a vossa vontade, assim na Terra como no Céu. Viu Padre
ridículo, nós não temos medo, me ajude pobre homenzinho fraco, eu sei que tu me
queres! – o padre tentou sair, mas o garoto apesar de sua magreza estava
extremamente forte.
-
Vá de retro satanás, em nome de Jesus Cristo, me dê forças.
-
Nós não temos medo lixo. – o garoto vomita sangue encima do padre. – Sinta meu
sangue padre, sinta o que eu sinto, o sangue sagrado dele.
O
Padre estava coberto pelo sangue do garoto que continuava com aquele sorriso
diabólico no rosto, estavam tentando arrombar a porta do outro lado sem
sucesso. O garoto começa a dar tapas no rosto do padre com violência, e com as
unhas arranhando, no desespero ele consegue se virar e engatinhar pra longe,
mas é puxado novamente pelo pé, então com o crucifixo que encontrou no chão
crava no pescoço do garoto, começa a se contorcer no chão urrando algumas
palavras que o padre não conseguiu identificar, uma espécie de fumaça preta
envolve o corpo do garoto, por uma fração de segundos o padre teve a impressão
de ter visto um rosto se formando na fumaça, o garoto é jogado por uma força
invisível no teto e logo depois com mais violência ainda no chão, sua cabeça é
esmagada pelo impacto, a fumaça desaparece, o padre se levante em meio dos
miolos no chão, a porta finalmente é aberta, logo depois dos gritos histéricos
das freiras com a visão do corpo sem cabeça, o Bispo aparece no quarto.
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