Autor: Cayyan C. Menezes
Meu corpo estremeceu quando a criatura se encurvou para me
encarar, seus olhos pareciam vazios e ao mesmo tempo cheios, vazios de qualquer
racionalidade e cheios de trevas, as mais densas trevas. Seu olhar era
penetrante, homicida e faminto. A sua face desfigurada se aproximou da minha e
sua boca se abriu revelando três fileiras de grandes dentes pontiagudos e o som
que se seguiu, o rugido da besta-fera, parecia uma sinfonia de gritos de pavor
que fez estremecer até minha alma. Eu saíria correndo, mas meus músculos que já
estavam enrijecidos pareceram virar pedra. Pensei que a criatura iria me me
comer, mas ela simplesmente fechou a boca e expressou a satisfação de quem
degusta o melhor dos sabores, então percebi que ela queria sim se alimentar de
mim, mas não me comer. Não, ela não queria que acabasse tão rápido, por ela
seria eterno, mas sabia que inevitavelmente me mataria aos poucos.
O monstro
rodeou meu corpo contemplando com prazer minha reação de pavor e parou
encostando a boca em meu ouvido e sussurrou palavras desconexas, mas que em
minha mente tinham sentido claro:
"Na tua pele sou o calafrio, na tua alma a dor da
antecipação.
No teu corpo sou arrepio e a taquicardia do seu coração.
Na tua cama sou a insônia e amargura.
Sou teu companheiro na viela escura.
Sou o carrasco e o açoite. Sou o suadouro incessante.
Sou o fantasma da noite. Sou, no teu ouvido, o susurro
gritante,
que a todo tempo te afronta.
Sou a causa e a consequência de tudo que te amedronta.
Minha identidade não é mais segredo,
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