"Tornei-me insano, com longos intervalos de uma horrível sanidade" - Edgar Allan Poe

W. R. SANTHOS

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Porto Alegre, Rs, Brazil
Escritor. Pintor. Cineasta Amador.

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sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Legião



O padre colocou a mão naquela que já foi uma doce criança, mas que agora estava sendo possuída por alguma entidade sobrenatural, os seus pais estavam mortos no chão vítimas do ataque feroz da garotinha de apenas oito anos. As lâmpadas piscavam freneticamente, o vento cortava seu rosto como golpes de uma espada afiada, a garota se contorcia como se a cama a estivesse queimando no fogo mais quente do inferno, sua aparência era pálida, seus olhos estavam vermelhos.

O padre estava desesperado, citava várias passagens da bíblia em vão, nada mudava o comportamento da garotinha, ele tentava disfarçar, mas estava tremendo da cabeça aos pés, o medo já havia tomado conta do seu corpo e a criatura das trevas que olhava através dos olhos da garotinha já havia percebido isso.

- Está com medo “boneca”? – Ela falou com uma voz que parecia metalizada.

- Entidade das trevas, vá embora em nome do Senhor.

- Será muito bom me divertir contigo. – Agora a sua voz tinha mudado, estava super aguda.

- Quem é você demônio? – O padre levantou o crucifixo.


- Eu não sou um, eu sou vários, caminhamos na mesma escuridão, somos almas amaldiçoadas, trazemos as trevas na luz, formamos o exercito do mal, pode nós chamar de Legião. – E uma risada de centenas de demônios ecoou pelo quarto.


Horas atrás...

Débora estava brincando no parquinho quando escutou a sua mãe chamando, saiu correndo pra encontra-la, mas antes esbarrou em um homem e caiu, ele a encarou por alguns segundos, seus olhos eram estranhos pareciam de gato. Débora se virou pra levantar e o homem desapareceu, levantou com uma forte dor de cabeça e um pouco tonta.

- O que houve minha filha? – Sua mãe perguntou.

- Minha cabeça está doendo.

- Vamos pra casa.

No caminho de casa, Débora ficava cada vez pior, sua mãe estava ficando preocupada com o estado que sua filha estava ficando. A febre estava alta e ela vomitou diversas vezes dentro do carro, ao chegar em casa se depara com um padre na sua porta.

- Sim, o que deseja? – A mãe perguntou apressada.

- Eu sei o que pode estar acontecendo com sua filha, posso ajudar?

- Desculpe padre, mas você é médico por acaso? Não sei o que o senhor está pensando? Mas não tenho tempo no momento. – Ela disse rispidamente.

A mãe entrou com sua filha dentro de sua casa, e deixou o padre no lado de fora, as horas foram passando até que anoiteceu, e Débora só piorava, o médico entrou e saiu diversas vezes sem conseguir diagnosticar ela, sua mãe já ia leva-la ao hospital quando Débora começou a ter um comportamento estranho, começou a se contorcer na cama e falar coisas em outras línguas. Seu pai chegou logo depois, super preocupado com sua filha.


- O que está acontecendo? Cadê a Débora? E porque tem um padre na nossa porta?

- Eu não sei, estou desesperada.

- Eu posso ajudar.– O padre aproveitou que o pai deixou a porta aberta.

Depois de ver o estado da sua filha, o pai concordou com a ajuda do padre. Ele explicou o que poderia estar acontecendo com a filha deles, que poderia estar sendo possuída por algum espirito demoníaco, no começo ficaram céticos, mas depois de vê-la surtando na cama, falando com diversas vozes diferentes e com uma expressão no rosto que não era dela, concordaram com o exorcismo.

O tempo havia se fechado, trovões podiam ser escutados fortemente. Débora agora xingava os seus pais e o padre dos piores palavrões possíveis, se insinuava sexualmente, fazia todos os clichês de uma possessão, mas era algo muito maior e diferente, tudo que fazia parecia apenas por diversão, e não era afetada por nenhuma reza ou pela água benta, o padre que esperava apenas um exorcismo sem grandes dificuldades, se viu no meio de uma das possessões mais fortes nunca vista ou documentada antes, e ele seriamente temia pela vida de todos ali, e a garotinha já estava condenada.

Em segundos de terror, Débora explode em uma raiva descontrolada e ataca os seus pais. Primeiro pula na sua mãe e morde o seu pescoço arrancando um pedaço de carne, a mulher cai no chão agonizando de dor, o pai tenta tira-la de cima, mas é atacado também, ela enfia as mãos nos olhos de seu pai e os afunda contra o seu crânio, sua força era fora do comum, parecia que tinha a força de mil homens ou mil demônios, com unhas que tinham crescido ela corta o pescoço dele, até arrancar a sua cabeça.

- A Legião precisa de um padre. – Um tempo depois das mortes.

- Como assim? – O padre não conseguia parar de tremer.

- Algo grande vai acontecer em breve, as tropas da escuridão já estão se mexendo, nosso pai vai abalar as estruturas.

- Lúcifer?

- Ele não gosta desse nome, venha padre me foda e você terá a vida eterna, antes que esse mundo seja tomado.

O padre não resistiu, se rendeu a tentação, mais pelo medo do que qualquer outra coisa. Ele se deita na cama e transa com ela, nunca tinha sentido um prazer tão bom quanto aquele. Abre os olhos depois do prazer e estava em outro lugar, deitado em uma lama verde fedorenta, estava acorrentado e milhares pequenos insetos comendo a sua carne numa dor indescritível. 


quarta-feira, 14 de outubro de 2015

O Táxi






A festa estava muito boa, Eduardo já estava na sua quinta taça de vinho, e começando a se sentir um pouco tonto e mais alegre que o normal, o único problema era que agora ele tinha que deixar o carro no estacionamento e ir pra casa de táxi. Ser pego na lei seca com a carteira provisória seria algo muito ruim pra ele, que se esforçou um monte pra tirar, e mesmo um pouco bêbado ele não esquecia isso.

Eduardo dançou, fez passinho, e sucesso com as garotas, só não conseguiu chamar a atenção de uma mulher especifica, Renata, a mais gostosa da sua turma; olhos verdes, longos cabelos pretos como a noite, boca carnuda com um forte batom vermelho, seios fartos e empinados, bunda redondinha; era o sonho de consumo de dez entre dez alunos da faculdade, e é claro também dele. Ela nunca foi vista com nenhum namorado ou ficante, quase nunca saia para as festas, essa era uma exceção, havia boatos que ela podia ser lésbica ou estar se prostituindo como acompanhante de luxo, mas Eduardo não se importava com essas fofocas queria apenas ter uma chance de ficar com aquela coisinha linda na sua cama.

Já era madrugada e a festa ainda estava bombando, foi quando ele notou alguns olhares em sua direção, e sim eram de Renata, ele não pode acreditar devia ser efeito do álcool, ou das luzes piscando, ele continuou dançando, mas não estava enganado, ela estava mesmo trocando olhares com ele, até que ela o abordou.

- Eai gatinho, se fazendo de difícil? – Ela perguntou se aproximando.

- Quem? Eu? Não, não. – Respondeu nervoso.

Depois de alguns minutos dançando juntos, Eduardo a convidou pra ir no bar pra conversarem mais de perto. A conversa estava tão boa que quando ele percebeu estavam se beijando, a sua boca tinha sabor de mel, e era tão macia como algodão, ele pensou enquanto a beijava. A música tinha parado de tocar, as luzes pararam de piscar, sua embriaguez tinha sumido, tudo com um simples beijo, ele nunca tinha experimentado um tão maravilhoso como esse.



- Vamos pra sua casa, aqui já deu o que tinha que dar. – Ela falou repentinamente.

- Claro, vamos. – Ele disse de bate pronto. – Mas só tem um problema, eu não estou em condições de dirigir.

- Sem dirigir, vamos de táxi.

Foi um alivio quando ela disse isso, estava preocupado que ela o dispensasse se ele falasse que não tinha condições de dirigir. Eles então parte, Renata estava magnifica, usando um vestido vermelho bem curto e justo no seu corpo escultural, caminhando atrás ele pode ver seu quadril enorme que balançava durinho de um lado para o outro.

- Não se preocupe, eu tenho um amigo que sempre me leva de graça no seu táxi.

- Tá bom. – Eduardo respondeu, mas nem estava prestando atenção no que ela estava falando, apenas aproveitava a vista que tinha.


Depois de alguns minutos o táxi chegou, ele e Renata sentaram no banco de trás, nem chegou a ver o rosto do motorista, estava mais preocupado em beija-la. O táxi começou a andar, e ele sentiu um calafrio que chegou até na sua espinha, era como se de repente o ar tivesse congelado, a atmosfera tinha mudado repentinamente, cada pedaço do seu corpo estava gelado, perguntou pro taxista se ele tinha ligado o ar condicionado, mas não houve resposta.

- Calma que nossa viagem está apenas começando. – Renata falou sorridente.

Alguma coisa tinha mudado, ele podia sentir, Renata também estava diferente, aquele sorriso que antes irradiava havia desaparecido, todo brilho da sua pele ficou pálida. Ela vira de costas pra ele e fica fitando a janela, eles não estavam no caminho pra sua casa, estavam em um lugar que Eduardo não conhecia, em nenhum ponto conhecido da cidade, e depois de passar por cima de um quebra molas ele se viu imerso na escuridão total, tudo durante um longo período de tempo ficou preto, parecia que o táxi e o seu corpo haviam desaparecido, ele não enxergava, não tinha tato, não conseguia gritar, apenas ficar flutuando na imensa escuridão.

Com um baque violento ele havia voltado para o táxi, estava suado e tremia da cabeça aos pés, puxou Renata pelo braço perguntando se ela estava bem, e tomou um susto quando ela se virou, seu rosto estava quase branco, e seus olhos estranhos.


- Olhe pra fora meu fruto, apenas olhe. – Ela disse com uma voz rouca.


Eduardo olhou pela janela do táxi e ficou chocado, o espanto foi tanto que ele não conseguiu se quer se mexer. Ele não sabia dizer onde estava, mas era assustador, o céu era vermelho, , as nuvens mais pareciam chamas incandescentes nas alturas. O táxi passou bem perto de um caldeirão onde eram cozinhados dezenas de pessoas, e em volta algumas criaturas metade gente, metade animal; alguns eram metade cavalo, outros metade cabra. Enquanto ele estava apavorado, Renata ria descontroladamente ao seu lado.

O táxi continuou andando e o taxista calado passando por diversas paisagens exóticas que pareciam um deserto  em chamas, até que chegaram em um altar gigantesco, com diversos símbolos religiosos de centenas de religiões diferentes, e no alto uma cabeça do tamanho de um avião com chifres em volta ao fogo, e aquele rosto era familiar, era o seu rosto.

Tudo ficou preto novamente, a mesma experiência de ficar flutuando na escuridão, quando acabou ele estava de volta na cidade e ainda no táxi, Renata abre a porta do seu lado e o empurra pra fora, Eduardo cai no chão, antes do táxi partir ela fala:




- Ainda não terminamos contigo.


LENDAS URBANAS

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